Elogio da "Casinha"

"So precious was manure that Chinese farmers stored it in burglarproof containers. The polite thing to do after enjoying a meal at a friend's house was to go to the bathroom before you departed."


No qual o autor prossegue com assuntos escatológicos.
Uma dos motivos pelo que estou grato por viver no século XXI é a canalização moderna (lamento, Teoria da Relatividade e Penicilina) - por muito que idealize alguns aspectos de outros tempos abandonaria alguns items da civilização mas nunca o duche quente, amen. Em relação à facilidade suspeita do manuseamento da sanita (e do seu Sancho Pança, o absurdo bidé) fico sempre de pé atrás. Penso que se tanto esforço foi feito para transformar o solo num meio fértil e esta fertilidade em alimentos e estes por sua vez em protagonistas de uma luta diária  para não os estragar na cozinha, até serem finalmente ingeridos, então mereceriam um Além mais digno, sob uma reencarnação, do que um bilhete só de ida para uma ETAR ao som diluvial do autoclismo. Afinal, como lembra o fabuloso pormenor de etiqueta chinesa acima, não era a valiosa fertilidade a base do sucesso de qualquer cultivador de alimentos/anfitrião?


Portanto fiz uma pequena pesquisa sobre Sanitas de Compostagem (também chamado saneamento a seco), basicamente versões modernas do buraco no chão tapado com palha num pequeno abrigo fora da casa principal, em busca de modelos que me pudessem eventualmente ser úteis para tomar uma decisão, com a intenção de saber se seria possível prescindir totalmente de equipamentos de tratamentos de resíduos (mini-etars ou fossas) caso quisesse ter uma habitação liberta destes gastos e infraestruturas (paga-se uma mensalidade pela ligação aos esgotos ou limpeza da fossa, para além de papeladas). 
Fiquei impressionado pela presença bastante normal noutros países, especialmente na Finlândia, onde são norma em equipamentos públicos. A Finlândia, como maior produtor destes equipamentos, tem mesmo uma Fundação destinada a divulgar os benefícios do Saneamento a Seco por todo o mundo (que detalhe deliciosamente escandinavo!) e fizeram um excelente manual em português que é bastante completo e esclarecedor. O que parece ser a Bíblia sobre o assunto actualmente é também o Humanure Handbook, que vejo aparecer em muitas recomendações. As soluções dividem-se em equipamentos completos pré-fabricados e em construções feitas de raiz.

Duas opções da Sun-Mar, à esquerda o modelo com depósito na cave, à direita o modelo com depósito embutido

As vantagens desta solução são: eliminação de cheiros; a possibilidade de ter dentro de casa, no local das sanitas tradicionais, o equipamento; solução pré-fabricada, de instalação simples.
As desvantagens que encontrei são as seguintes: para tirar partido da eficiência tem que se escolher um modelo eléctrico para o longo prazo; se tiverem um depósito embutido ficam numa espécie de palco, que viola as leis das acessibilidades; se tiverem um depósito externo precisam de uma escavação debaixo da casa.   Em Portugal por enquanto apenas encontrei este equipamento da Aquatron, comercializado pela Biohabitat.

Duas opções feitas de raiz. À esquerda, da Ferme de Sourrou e à direita da Milkwood Permaculture
  
O modelo de fabrico próprio tem a vantagem económica (embora esteja algo desconfiado deste aspecto), a simplicidade e eliminação da necessidade de remover semestralmente os resíduos de um depósito, que no caso das fixas, a publicidade garante como inodoro e praticamente igual ao composto normal, se correr bem.
Esta parece ser a solução predominante no nosso país e encontrei aqui quem se disponibilizasse a construir/ensinar a construir.
Apesar do nosso clima (sobretudo) brando incomoda-me a sua posição conspícua no exterior da casa, apesar dos felizes exemplos acima. No caso das compradas, estas vêm com uns pellets para misturar com os resíduos mas asseguram-me que a serradura tem o mesmo efeito- mas implica um fornecimento de serradura e tê-la na casa-de-banho. São tudo razões para pensar também em soluções de compromisso, como usar um abrigo no exterior em estações mais quentes e a solução convencional dentro de casa nas restantes, o que sempre reduziria bastante os consumos de água no Verão.

 Seja como for, se algum dia for o proprietário de uma "casinha", prometo desde já não comentar a qualidade e quantidade das lembranças dos visitantes, pelo menos publicamente.

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