Neo-Rurais [I]: Quem?


A primeira vez que ouvi esta expressão foi no sentido pejorativo, para descrever aqueles que, tendo uma casita rural que sobreviveu às partilhas de património familiar, a usavam para revisitar, em nome do ócio, o contexto físico da vida dos seus antepassados. A relação produtiva com a terra teria sido entretanto substituída pelo relvado e piscina, sobrevivendo uns quantos limoeiros, vinhas ou oliveiras (um privilégio!). Outros ainda atribuíram ao termo uma relação com centenas de expatriados europeus relocalizados nos distritos Além-Tejo, com preços de propriedade rural mais baixos, e subsistindo em parte de reggae, favas e didgeridoos (não me parece mal). Não me consigo rever nestas posturas levemente desdenhosas nem nos seus alvos.

Perguntei-me se existiriam pessoas a mudarem-se para o campo para dele viverem directamente, sem ser (exclusivamente!) por hedonismo, à semelhança do que está a surgir com muita força nos EUA. Se existissem, esta expressão seria, na falta de melhor, uma boa descrição para uma modesta onda de novos habitantes que não estariam a retomar aquilo que se fazia antes nem seriam mesmo descendentes dos que saíram. Tampouco serão como os protagonistas desta reportagem: commuters rurais que fazem do campo cenário; auto-exilados culturais ou versões locais de walkabouts vocacionais.  São pessoas que valorizam o meio rural, mas não sei se serão o seu futuro.

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