Ser e Ter

Ilustração do Nuno Saraiva






 Ser e ter são os verbos mais usados e os primeiros que aprendemos a conjugar. Apesar de o "ter" ser gramaticamente mais importante noutras línguas para conjugar outros verbos, a sua presença, inclusive no português, serve para enquadrar quão importante é o sentido de posse na nossa concepção do mundo. "Possuo esta casa, aquela pessoa é minha e eu sou dela, pertenço a aquele lugar."

Libertado da tentadora e confortável opressão da propriedade, não possuo esta quinta pela qual estou responsável. Estava antes muito relutante em abdicar do controlo e acomodação que pensamos que temos quando ao mesmo tempo pensamos que possuímos.

Não a possuo, por isso errar tem outro peso, sobretudo financeiramente. Mas ao mesmo tempo, porque não a possuo é provável que mesmo que alguma medida de sucesso chegue eu tenha um dia que a abandonar e começar algo novo. No fundo a escolha resumiu-se a confiar mais neste parceiro que confiou em mim (uma institituição social) do que num banco. Parece uma escolha natural.

É uma lição extremamente difícil de aprender, o reconhecimento da natureza transitória das coisas e da noção de que a nossa posse é sempre ténue. Não associarmos o que somos ao que temos e nunca tomar por garantido aquilo que pensamos que possuímos é a maior protecção que podemos ter face às coisas que inexoravelmente mudam .
Mas não faz mal, depois desta lição é impossível voltarmos a perder o que quer que seja.

(Não está relacionado mas o título do post é emprestado de um dos melhores documentários que já vi)

1 comentários :: Ser e Ter

  1. :)

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