Como mover penedos
Cachenas a pastar junto ao rio Vez |
Fui há tempos fazer um percurso de 3 dias à Peneda. Num café numa das etapas a curiosidade mútua levou a que me perguntassem o que estava lá a fazer sozinho e a que eu depois perguntasse sobre o uso que se ainda dava às Brandas porque muitas estavam visivelmente ocupadas. Acontece que lá vão vivendo com os apoios ao gado Barrosão, Cachena e Churra mas é quase tudo para auto-consumo oficial ou não-oficial (ou seja, redução de efectivo para "auto-consumo" dos restaurantes locais).
A conversa lá vai inevitavelmente para os velhotes isolados - a aldeia seguinte, com 53 pessoas, está a duas fatalidades masculinas de ser uma comunidade matriarcal porque os homens inevitavelmente se gastam mais rápido e vão indo à frente.
Um dos homens do café, como o Clark Kent a abrir a camisa, de repente diz - "olhe, eu sou o Presidente da Junta daqui". Depois explica, com o café só com a senhora a lavar as chávenas (que é de outra freguesia), que daqui a 20 anos a freguesia em que estamos quase não existe - todos (todas?) passaram já o limite estatístico da esperança média de vida.
A mania de maçarico ingénuo que quer ter um projecto agrícola causa depois a habitual sequência de surpresa, cepticismo e troça mas conclui o sr. presidente - com razão- que não há um movimento desse tipo com escala suficiente para ocupar aquele território da mesma forma ou com a mesma intensidade de outrora, nem mesmo com a ajuda do turismo. Fica assim implícito um retorno de grande parte daquela paisagem a uma colonização florestal mais ou menos espontânea que não existe nalguns locais há séculos ou mesmo milénios.
A única esperança daquele sítio, continua, era de que os filhos emigrados das pessoas que lá estão, agora perto da idade de reforma, se aposentassem naquele local. Vendo as famílias luso-francesas que passaram naquele café pouco tempo antes, com netos/bisnetos loirinhos que já só falam a língua materna, custa-me muito a acreditar que alguma vez ficassem nas montanhas longe dos filhos e de um estilo de vida que lhes custou muito a atingir.
Ao ir embora dias depois ia vendo a cena recorrente desta região (na imagem acima), em que os solos profundos junto aos rios, outrora reservados nessa altura para culturas mais exigentes e valiosas, são transformados em pastos durante o ano todo porque, fora o vinho verde, já é a única produção compensatória que resta. Como não posso competir com este "arrendamento verbal" para gado que é renovado ano a ano, com a minha necessidade de ter papéis para concessão a 10-15 anos para culturas perenes parece que é cada vez mais esta a direcção da zona até que se mudem as atitudes e se apostem nas culturas agro-florestais aptas aos solos férteis e clima desta região e em atrair outras pessoas para além dos retornados francófonos.
18.12.12
Apontadores [XVII] : Ver os Gregos
With Work Scarce in Athens, Greeks Go Back to the Land
Emigrar ou suar para conseguir entrar em mercados de exportação muito competitivos. Não acho que existam certezas de redenção rural nem que o desespero seja bom motivador, mas é uma tentativa tão boa como qualquer outra.
Golden Dawn far-right party give out food to Greek nationals only
O que o desespero gera de certeza é o oportunismo que utiliza o acesso a alimentos e a caridade como arma política e ferramenta de divisão da sociedade por motivos que não têm a ver com as causas da fome.
Greek farmers rent patches of land to citydwellers in scheme to combat crisis
A compra directa ao produtor por "acções" emerge num esquema que existe no norte da Europa e EUA há décadas: consumidor financia agricultor com pré-compra de alimentos para dada época, a ser fornecida posteriormente. Ambos poupam bastante tempo e dinheiro e reduzem desperdício.
Greek crisis: social enterprise is one answer to economic strife
Apagar fogos reais para apagar fogos sociais e outras ideias pragmáticas e viáveis no curto prazo para combater a crise, enquanto que em Portugal organizamos o enésimo workshop/conferência/bolsa de ideias para projectos de pesquisa de potenciais acções de economia social/criativa/ambiental.
Greece's cut-price potato movement shows Greeks chipping in
Para proteger margens mínimas os supermercados cartelizam preços de alimentos essenciais, em resposta pessoas que por causa da "falta de conforto" nunca comprariam fora dos hipers passam a recorrer à compra em quantidade ao produtor na traseira da carrinha. São batatas de protesto político.
Ordinary Greeks are taking matters into their own hands
Como os impostos vão sobretudo para pagar juros e as companhias de bens essenciais estão privatizadas basta um pequeno rastilho para que qualquer cidadão se sinta no direito de roubar água, electricidade e fugir a declarações de renda, muitas vezes com cumplicidade do poder local.
Young Greeks Create Self-reliant Island Society
Tudo o que sei deste tipo de eco-aldeias põe-me bastante céptico quanto à sua viabilidade, mas não se pode ignorar o apelo dos benefícios de partilhar os recursos que encarecem imediatamente em tempos de crise, como habitação, alimentação e transporte. Há muitas formas de o fazer.
Emigrar ou suar para conseguir entrar em mercados de exportação muito competitivos. Não acho que existam certezas de redenção rural nem que o desespero seja bom motivador, mas é uma tentativa tão boa como qualquer outra.
Golden Dawn far-right party give out food to Greek nationals only
O que o desespero gera de certeza é o oportunismo que utiliza o acesso a alimentos e a caridade como arma política e ferramenta de divisão da sociedade por motivos que não têm a ver com as causas da fome.
Greek farmers rent patches of land to citydwellers in scheme to combat crisis
A compra directa ao produtor por "acções" emerge num esquema que existe no norte da Europa e EUA há décadas: consumidor financia agricultor com pré-compra de alimentos para dada época, a ser fornecida posteriormente. Ambos poupam bastante tempo e dinheiro e reduzem desperdício.
Greek crisis: social enterprise is one answer to economic strife
Apagar fogos reais para apagar fogos sociais e outras ideias pragmáticas e viáveis no curto prazo para combater a crise, enquanto que em Portugal organizamos o enésimo workshop/conferência/bolsa de ideias para projectos de pesquisa de potenciais acções de economia social/criativa/ambiental.
Greece's cut-price potato movement shows Greeks chipping in
Para proteger margens mínimas os supermercados cartelizam preços de alimentos essenciais, em resposta pessoas que por causa da "falta de conforto" nunca comprariam fora dos hipers passam a recorrer à compra em quantidade ao produtor na traseira da carrinha. São batatas de protesto político.
Ordinary Greeks are taking matters into their own hands
Como os impostos vão sobretudo para pagar juros e as companhias de bens essenciais estão privatizadas basta um pequeno rastilho para que qualquer cidadão se sinta no direito de roubar água, electricidade e fugir a declarações de renda, muitas vezes com cumplicidade do poder local.
Young Greeks Create Self-reliant Island Society
Tudo o que sei deste tipo de eco-aldeias põe-me bastante céptico quanto à sua viabilidade, mas não se pode ignorar o apelo dos benefícios de partilhar os recursos que encarecem imediatamente em tempos de crise, como habitação, alimentação e transporte. Há muitas formas de o fazer.
14.12.12
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