Ohrwurm [XI]: Três cidades

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Esta foi uma das músicas que inaugurou a Quinta na primeira tarde que esteve de portões abertos a todos. Chama-se Évora e foi tocada e cantada por um vimaranense e um vianense. Por razões muito diferentes estas cidades tiveram um papel essencial nos últimos dois anos e o facto desta ténue associação ter ocorrido faz-me no entanto acreditar ainda mais que foi um dia auspicioso.

As Brassicas não aceitam lições de resistência

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Truísmos [XXI]

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“A true conservationist is a man who knows that the world is not given by his fathers, but borrowed from his children.

John James Audubon

Cabin Fever [II] : Amor, cabana, carabina sobre a cama

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via Backyard Bill





Apontadores [XXIII] : Uma árvore para cada um

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Nove camadas de uma Agro-floresta
A base de uma organização de pomar de espécies complementares e de valor alimentar que poderão servir de base a intervenções de baixa manutenção e de valor ornamental no domínio público

Portland Fruit Tree Project
É uma ONG cuja missão é recolher dados das árvores de fruto disponíveis na sua área geográfica, tanto públicas como de privados, e coordenar colheitas e distribuição para famílias de baixos rendimentos

Fallen Fruit e City Fruit e Neighbourhood Fruit
Mais dois programas similares que promovem a apanha de fruta pública como actividade lúdica

Seattle planta primeira "floresta comestível" pública do país
Com a possibilidade de crir um parque de cerca de 3ha a Câmara decidiu usar somente espécies com valor alimentar, permitindo e orientando a sua colheita livre

Floresta de 56 ha vai materializar-se no centro de Detroit
Uma cidade que perdeu 60% da população em 15 anos converte áreas hoje totalmente vazias numa grande "floresta aos retalhos", incluindo zonas com pomares e que integram projectos agrícolas de residentes

Respigadores urbanos apanham o fruto proibido
Aproveitamento das fruteiras urbanas dentro da legalidade mas numa modalidade quase desportiva

Vizinho, ofereces uma ameixa?
A popularidade dos respigadores de fruto até origina alguns negócios originais

A tua cidade é um pomar público
Um guia bonito para identificar e mapear as espécies comestíveis em domínio público

O que é um pomar comunitário?
Um testemunho sobre as várias tipologias e modos de implementação que existem, por enquanto raros em Portugal

Pomares Comunitários nos Ginetes fornecem as escolas
Em Portugal existem muitas árvores de fruto públicas e alguns pequenos pomares (como nas hortas de Guimarães) mas é interessante e original que as responsabilidades das Câmaras na alimentação do ensino básico sejam colmatadas com fruta local e pública

Armas de Alimentação Maciça

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A nova Lei Europeia das Sementes, actualmente em discussão no Parlamento Europeu e já na 3º versão, propunha inicialmente uma legislação draconiana que fundamentalmente ilegalizava toda a preservação e troca de sementes de variedades não-comerciais, na quais se inclui grande parte do património genético agrícola.

A excepção seriam os casos em que estas variedades fossem adquiridas por empresas comerciais de sementes (que iam reter direitos de autor sobre estas variedades) ou em que a ONG de preservação observassem um conjunto de regras que determina que ou se mantêem para sempre como micro-grupos sem capacidade de "fazer mossa" na agro-indústria ou que crescessem e assumissem um escala e estrutura interna semelhante aos grandes produtores de sementes, acompanhada das taxas correspondentes.
Entretanto, sob uma chuva de protestos, estas condições foram diluídas e enterradas sob jargão legal e regimes excepcionais, não sendo ainda compatível com aquilo que é próprio da civilização.
A UE demite-se assim do papel que poderia ter na preservação de uma das suas maiores riquezas e na defesa do direito universal à alimentação, providenciada por variedades adaptadas regionalmente.

Isto significaria um precedente escandaloso: uma actividade fundamental da Humanidade há milénios como é recolher, preservar e trocar semente (em tempos usada como moeda) e o sustentáculo base da civilização como é a agricultura de subsistência seria alvo de propriedade exclusiva, uma patenteação da vida que a um nível mais absurdo seria como definir a propriedade da chuva em determinada área.
E assim de repente o que era impensável torna-se questionável face à voracidade do elevado potencial de rentabilização do que é essencial, luta que a habitação e energia já perderam há muito e em que a saúde e educação sofrem derrotas constantes.

É por isso que se corre o risco de daqui a alguns anos uma espécie de terrorista ser aquele que produz a própria alimentação; que recolhe a própria água e energia; que constrói a própria habitação sem recorrer a crédito; e finalmente, que recolhe e partilha a própria semente.
Satisfazer as nossas necessidades fundamentais fora da esfera do consumismo torna-se cada vez mais um acto de subversão política quando deveria ser um direito fundamental associado à sobrevivência básica.

Entretanto, sou sócio e futuro guardião desses "perigosos clandestinos" da Colher para Semear, repositório nacional e voluntário de uma riqueza patrimonial comparável ou superior aos Louvres deste mundo - a vida das sementes é a nossa vida. Encomendem e plantem. Resistam.


Uma semana em Outubro

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Foto do João Sarmento


Com mais novidades do que tempo para as relatar, é ainda estranho acreditar na sucessão de coisas que têm acontecido e que por algum motivo parecem encaixar-se umas nas outras sem nenhuma outra exigência da minha parte do que ter os olhos abertos e estar receptivo ao que aparece, por inesperado que seja.

No passado sábado, dia 5, abri a quinta pela primeira vez a visitantes e amigos, algo que vou repetir em princípio no último Domingo de cada mês (o próximo é no dia 27 de Outubro).
Abro o portão de manhã e existem algumas tarefas a realizar, com vários graus de simplicidade e culmina numa refeição que partilho com quem visitar, mais aquilo que se quiser trazer e partilhar.

Tivemos a sorte de ouvir dois concertos na Eira a fechar o dia (acima), espero que não seja a última vez que acontecem porque não deve existir nada melhor do que centrar um dia em torno do trabalho em conjunto, da comida e da música.

No passado fim-de-semana fizemos também uma primeira experiência para o que um dia pode vir a ser o 1º Mercado Biológico de Guimarães, e muitos contactos de uma inesperada actividade no concelho de pessoas que partilham os mesmos princípios. Cuidadosamente construída, podemos vir a criar localmente uma rede de produtores e clientes daquilo que sei que é o futuro.

Apareçam!


Ohrwurm [X] : Azul para Cinzento

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Waldenomania [XIV] : Went to Get Wood

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"Went to Get Wood" (2009) Ethan Hayes-Chute

Adeus Verão cheio de aprendizagens, Olá Outono da primeira sementeira

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Wanderlust [I] : Peneda

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77 kM, 60 horas









21 de Junho

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Apontadores [XXII] : Listas

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Algumas curiosidades respigadas

Ten most Important Crops in the World

Eight Foods You Should Stock Up On Before Climate Change Takes Them Away

Twenty Fruits You Probably Don’t Know

Seis frutos e legumes que são a aposta da agricultura portuguesa para o futuro

Twelve Most Toxic Fruits and Vegetables

Doze citrinos de que nunca ouviu falar

Six Most Horrifying Lies The Food Industry is Feeding You


Fifty Things I’ve Learned from Tiny Farming

52 Wild Plants You Can Eat


5 Irmãos criaram a União, quando partilharam a água decidiram ficar

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Através do Pedro Rocha cheguei ao documentário completo do pioneiro do documentário António Campos, sobre a vida comunitária de Vilarinho das Furnas antes da sua submersão. Um trabalho que mostra um universo agora já na sua última geração, que é disponibilizado no Youtube pela UBI Filmes.

Já tinha referido este documentário e o Almadraba Atuneira neste post anterior.

Gente sem aldeia, aldeia sem gente

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A Branda da Aveleira, convertida para turismo rural (totalmente vazia no dia da foto)




Há anos atrás, um anúncio num forum chamava interessados a participarem num encontro para a possibilidade de criação de uma "eco-aldeia" ao qual também fui por curiosidade, juntamente com um pequeno e heterogéneo grupo de completos estranhos. Consegui parte do que pretendia, que era conhecer pessoas com outras aptidões, mas não o meu segundo objectivo que era o de encontrar um espaço, porque pensava que a partilha podia torná-lo mais acessível. Mas infelizmente era uma reunião de desterrados.

O objectivo do grupo era o mesmo que atravessa um tipologia de comunidades intencionais que vai desde os falanstérios que se quiseram implementar no Novo Mundo, até às diversas formas de comunas dos anos 60 e que hoje evolui para formas mais ou menos tecnotópicas, menos políticas e por isso se calhar com um interesse mais alargado e por isso mais mediático. Rapidamente neste encontro se viu o choque entre as diferentes concepções do que seria a comunidade e também entre visões incrivelmente detalhadas ou incrivelmente genéricas, em diferentes graus de ingenuidade.

Tornada evidente a falta de acordo emergiu um único factor do qual não estava à espera: quase todos pretendiam um local isolado, preferencialmente totalmente desabitado.
Como fui apanhado de surpresa perguntei qual o motivo - se era por razões políticas, legais (brincadeira), por repouso ou associação a uma área de protecção especial ou outro factor. Pareceu-me pelas respostas difusas que o motivo era simples: queriam só um sítio onde começar do zero. Porquê não disseram mas penso que seria porque algum tipo de passado ou identificação com o existente seria interpretado com uma contaminação do que idealizavam, um incómodo para a tabula rasa que queriam fazer da sua vida.

Perto do final do encontro manifestei a minha opinião: porque é que anda tanta gente com boas intenções e alguma capacidade à procura do esforço enorme que é criar uma comunidade do zero quando existem tantas comunidades com excelentes condições à procura de pessoas?
Porque é que as aldeias que temos a definhar junto a vias de comunicação, com alguns equipamentos comunitários a funcionar, pessoas dispostas a ensinar e que funcionam com baixos recursos e produtos locais não são "eco-aldeias"?
Porque é que em vez de arrancar logo com 50 transplantados que se desconhecem para um ermo porque não gradualmente ocuparem algumas aldeias específicas e integrarem plenamente essas comunidades mais estáveis?

Passados alguns anos não acredito na regeneração total das nossas comunidades rurais, nem sei se será desejável (fica para outro texto o porquê) nem na viabilidade da localização remota (a não ser para turismo).
Mas não acho que sejam possíveis "tábuas rasas" ou isolamentos, por mais apelativos que pareçam.


Waldenomania [XIII] : Em versão mini no Alto Minho

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TV Rural [XXI]: Mais inspiração

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The Whole Pie. from Plus M Productions on Vimeo.

(Obrigado Luís)

Ohrwurm [VIII]

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Denso ou intensivo?

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Ao procurar modelos para o tipo de produção agrícola que gostaria de praticar encontro muitos exemplos que confrontam o que valorizo ambientalmente com o que é compreensivelmente valorizado em termos de eficiência económica. As duas coisas não são necessariamente contraditórias, mas vejo que é sempre raro ou difícil atingir um equilíbrio entre elas.

Como estou responsável por uma pequena quinta que está, segundo o modelo de implementação habitual, no limiar ou abaixo da rentabilidade que o viabiliza, vejo-me impelido por profissionais da área a apostar em apenas num produto do modo mais intensivo e especializado possível, ocupando absolutamente toda a área disponível. Por outro lado gostaria de produzir intensivamente mas de uma forma que incluísse vários produtos que se complementam em termos de uso do solo, integrando melhor produção animal e vegetal por exemplo.

Não se trata apenas de pôr todos os ovos no mesmo cesto face ao risco de perder a produção toda por causa de uma semana chuvosa que coincida com a colheita por exemplo, mas de diversificar também o tipo de serviços e produtos que podem ser oferecidos. Com a variedade poderia diversificar também a clientela para além dos entrepostos e dirigindo-me ao mesmo tempo para o comércio local, algo que tenho vindo a ser absolutamente desaconselhado a fazer mas que sinto que posso experimentar gradualmente nesta fase inicial, especialmente estando dentro de uma área urbana, próxima de um mercado potencial.

A Sunny Creek (na foto) é uma produtora biológica australiana de frutos silvestres, castanha e maçã que produz na seca planície a norte de Melbourne com um sistema agro-florestal que integra os vários frutos, pensado para lidar com o clima e escassez de água, criando um oásis que é também economicamente próspero pela valorização que os seus clientes fazem deste modo de produção. Produzem com médias por hectare bem menores que os melhores casos de estudo tecnológicos destas culturas mas investiram também muito menos para obter o que têm - no fundo o saldo económico é semelhante mas o saldo ambiental e social é muito melhor. O que exigiu foi mais tempo e conhecimento, e uma relação mais elaborada e próxima com o cliente final.

Aqui não vejo muitas contradições, só inspiração.

Album [XXI]

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Não faço a mínima ideia do conteúdo mas gosto muito das capas da extinta Country Gentlemen, que tem uma espécie de sucessor na recém-lançada Modern Farmer, para divergir estilisticamente da velhinha e imutável Mother Earth News. Acho positiva esta mudança de imagem pública da agricultura, que me faz sentir que não estou candidato à proscrição social, mas por outro lado já falei ás vezes de todo este entusiasmo aqui.

A minha revista preferida em Portugal é previsivelmente a Segredo da Terra, que tem um excelente editor em conteúdos mas perde em desdenhar o design (nem é por uma questão de "aspecto" mas da mais básica funcionalidade) e que podia ter uma presença online mais forte, inclusive com números antigos.







Agendar

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Concurso de Cães Pastores no Freixo do Meio 





Não há grande oportunidade para passar em todas as actividades excelentes na área do ambiente e agricultura que têm vindo a aumentar e a melhorar em qualidade por todo o país. 
Este ano fui pela primeira vez ajudar e participar no incontornável Encontro de Primavera, uma experiência inesquecível e absolutamente imperdível para crianças e pais com braços doridos de tantos puxões em direcção ás muitas actividades.

Não sei se consigo ir a todos ou mesmo a algum destes outros famosos eventos de Verão nos quais gostaria de me estrear mas marquei-os na agenda na mesma e pelo menos ficam aqui como sugestão e pretexto para conhecer melhor algumas regiões do interior:

Festival Salva a Terra - Festival de música e ambiente em Idanha-a-Nova, de 7 a 10 de Junho
Burro I L Gaiteiro - Cultura Tradicional e o Burro Mirandês em Miranda do Douro, de 25 a 29 de Julho
Bons Sons - Festival de música portuguesa na aldeia de Cem Soldos, sem edição em 2013?
Andanças - Festa da Música e Dança Popular, este ano mudou para Castelo de Vide, 19 a 25 de Agosto
Cine'Eco - O Festival de cinema ambiental que acontece em Seia, de 19 a 26 de Outubro

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A Rita Tomás partilhou também nos comentários ao post anterior um interessante ciclo organizado pelo Teatro Maria Matos , por onde já passou o Anselm Jappe, que deixou esta interessante entrevista no Público, e onde ainda vão falar Tim Jackson a 24 de Junho (que tem esta intervenção no TED) e Viriato Soromenho Marques (que tem crónicas no DN), que é importante escutar no dia 16 de Julho. Fica esta citação do Tim Jackson:

"The story of current social values is the story of us, people, being persuaded to spend money we don't have on things we don't need to create impressions that won't last on people we don't care about. (...)This is the basis of our growth-dependent society, even after hitting the wall in 2008.(...) This tragically creates an absence of purpose for people as well as an impossible standard for economies."

Actualização: O Festival Bons Sons só se realiza em anos pares, ou seja a próxima edição é em 2014

Apontadores [XXI]: Autóctone

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Alguns apontadores sobre produtos, raças de animais e variedades de plantas de Portugal

Mapa dos DOP/IGP
Uma lista completa de todos os produtos alimentares com origem e/ou método de fabrico protegido. Não é só o que podíamos exportar e consumir mais, é um património. Aqui em lista por extenso, e aqui só as frutas.

Programa para a Promoção dos Ofícios e das Microempresas Artesanais
O programa de apoio à complentariedade de actividade agrícola com actividades artesanais da DGADR. Boas intenções mas os moldes são ainda tímidos para o potencial que por enquanto ainda vai existindo.

Ruralbit - Fotografias de Raças Autóctones
Uma base de dados informal mas com todas as raças e com alguma informação básica sobre cada uma. Cada raça tem uma associação própria que em parceria com o Governo ajuda a definir os padrões.

Federação Nacional das Raças Autóctones
Uma lista de todas as associações encarregadas de proteger o património genético e que prestam alguns serviços de consultoria e contactos de criadores para os interessados

Apoios complementares aos criadores de raças autóctones
Nas raças elegíveis não faz qualquer sentido que esteja destacada a raça bravia (usada nas touradas) e depois não apareçam raças que estão associadas a produtos IGP como a Cachena. Um absurdo.

Flora de Portugal
O portal Flora-on é um tesouro de referência rápida, fico sempre impressionado com as variedades silvestres que não imaginava que existiam

Plantas Invasoras de Portugal
O reverso também é importante conhecer, como esta lista das plantas invasoras no país, com uma descrição  sintética. Também não imaginava que algumas destas fossem invasoras.

Banco Português de Germoplasma
Um património vivo único no mundo que é mantido em Braga tem uma história de luta contra a extinção que dava um filme. O maior banco de germoplasma da Península e contribuidor para os congéneres mundiais merecia mais do que nunca o mesmo reconhecimento e cuidado que se dá às reservas de ouro em Lisboa.

Mapa Etno-Musical de Portugal
Muito interessante este mapa interactivo, que inclui alguma da música tradicional da lavoura (com recolhas de M. Giacometti). Por bairrismo e não só gosto da muralha sonora do Canto Polifónico Minhoto, alguém ponha estas mulheres a desafiar os homens da variante Alentejana.

Ser e Ter

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Ilustração do Nuno Saraiva






 Ser e ter são os verbos mais usados e os primeiros que aprendemos a conjugar. Apesar de o "ter" ser gramaticamente mais importante noutras línguas para conjugar outros verbos, a sua presença, inclusive no português, serve para enquadrar quão importante é o sentido de posse na nossa concepção do mundo. "Possuo esta casa, aquela pessoa é minha e eu sou dela, pertenço a aquele lugar."

Libertado da tentadora e confortável opressão da propriedade, não possuo esta quinta pela qual estou responsável. Estava antes muito relutante em abdicar do controlo e acomodação que pensamos que temos quando ao mesmo tempo pensamos que possuímos.

Não a possuo, por isso errar tem outro peso, sobretudo financeiramente. Mas ao mesmo tempo, porque não a possuo é provável que mesmo que alguma medida de sucesso chegue eu tenha um dia que a abandonar e começar algo novo. No fundo a escolha resumiu-se a confiar mais neste parceiro que confiou em mim (uma institituição social) do que num banco. Parece uma escolha natural.

É uma lição extremamente difícil de aprender, o reconhecimento da natureza transitória das coisas e da noção de que a nossa posse é sempre ténue. Não associarmos o que somos ao que temos e nunca tomar por garantido aquilo que pensamos que possuímos é a maior protecção que podemos ter face às coisas que inexoravelmente mudam .
Mas não faz mal, depois desta lição é impossível voltarmos a perder o que quer que seja.

(Não está relacionado mas o título do post é emprestado de um dos melhores documentários que já vi)

Cabin Fever [I]

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Amigos constroem Beaver Brook

Ohrwurm [VII] : Bom Domingo

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Aprender, fazendo

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"As crianças são animais de criação extensiva e devem ser deixadas a pastar nos canteiros de morangos no Verão" John Seymour




Nunca entendi porque é que no nosso Ensino Básico transmitimos às crianças muito do conhecimento acumulado pela Humanidade durante milhares de anos como a Língua, Matemática e Ciência e não estendemos o currículo a todas as ferramentas elementares para a compreensão do mundo físico, como a Agricultura, e o conhecimento prático do mundo natural envolvente através da Biologia aplicada.

Este papel terciário ou inexistente na formação clássica, faz depois que certas actividades sejam alvo de alguma diminuição social e cultural, apesar da sua óbvia importância no quotidiano.
O caso mais visível é o da produção de alimentos, mas estende-se a todas as actividades, desde produzir utensílios, vestuário, culinária ou mesmo à construção propriamente dita, basicamente conhecimentos também resultantes da evolução da civilização. Pior ainda, a sua presença nos currículos do saudosismo ruralista  e patriarcal da ditadura manchou para várias gerações a presença destas actividades no ensino.

Fico no entanto curioso com métodos de educação que incluem alguns destes aspectos ou transferem a sala de aula para um contexto exterior e exclusivamente prático, mas não deixo de pensar que as ATLs semi-obrigatórias que agora existem podiam ser passadas (pelo menos parcialmente) com as crianças a aprenderem mais sobre os animais, fenómenos e objectos que os rodeiam.

É fundamental para o seu desenvolvimento e auto-confiança desenvolverem aptidões das quais retirem uma utilidade prática e imediata fora do abrigo de uma sala de aula ou da supervisão constante.
Gostava de um dia integrar na quinta uma forma de educação (em regime de ATL, AEC ou outro) que seja alternativa ou complemento à educação básica das crianças da cidade onde resido.

Não garantia é que voltassem com a roupa limpa a casa.

Waldenomania [XII]: Touché (parcial!)

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Album [XX] : Europe's Wild Men

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Trajes pagãos na Europa Contemporânea





Fui aprender a um sítio bonito e agora estou de volta para tentar criar outro

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Este fim-de-semana e no Feriado

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TV Rural [XX] : Algumas Reportagens em Portugal

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"Os novos Agricultores"
Com o Pedro Rocha da Raízes, cujos produtos podem provar também na Casa da Horta (visitem-nos em Gaia e no Porto, tudo malta excelente!)

"A Agricultura em Portugal"
Um breve panorama geral da produção agrícola em Portugal, importante escutar a Maria António Figueiredo, que tem feito um excelente trabalho no OMAIAA

"O Mel em Portugal"
Mais um pequeno retrato da produção apícola no país, que irá nos próximos anos conhecer algum crescimento com a geração Proder, ver por exemplo as colmeias tradicionais feitas pela Timberbee

"Famílias Portuguesas Regressam ao Campo"
Mais uma reportagem leve com a intenção de focar mais o aspecto de mudança de rotina do que dar um retrato do chamado regresso ao "campo", que ainda é estatísticamente irrisório apesar do mediatismo

"De Sol a Sol"
Herdeiro do mítico TV Rural, um programa que foca tematicamente e com algum interesse um tema específico em cada episódio

"Celestino Santos deixou carreira como repórter fotográfico e tornou-se criador de galinhas"
Conheci o Tino, produtor de ovos biológico e dono da empresa Ganda Pinta, no meu último anfitrião WWOOF. Os ovos dele podem ser comprados no Mercado da Ribeira em Lisboa na loja do Freixo do Meio.

Um debate interessante sobre os mitos e realidades acerca das oportunidades e potencial da agricultura

Truísmos [XX]

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"The less I needed, the better I felt"

Charles Bukowski "Let it unfold you"

(de assinalar que poucas pessoas serão menos bucólicas que o CB, mas em vez de uma das milhares de imagens dele a beber escolhi esta num raro acto de jardinagem (?) por motivos manifestamente contextuais)

Apontadores [XIX] : Consumo Cooperativo

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Relacionado

Voltámos ao tempo das trocas sem dinheiro
A Rede Barter  organiza trocas de serviços entre empresas através de um sistema de créditos, sem dinheiro, mais uma tipologia de partilha de recursos que não conhecia

Este supermercado é gerido por votação e os clientes também são donos
Uma cooperativa de consumo da Marinha Grande que paga sempre acima do ordenado mínimo, sem horários esmagadores e ainda apoia os produtos nacionais com preços comparáveis aos dos hipers

The People's Supermarket: where even the smell of baking bread is genuine
Neste supermercado os membros são também donos, pagam a mensalidade com trabalho no supermercado, não vendem produtos que não sejam locais ou saudáveis, não desperdiçam nenhum produto e têm um restaurante cooperativo

Cooperativa comunitária: nos Estados Unidos, apostar em produtos locais compensa
Este é um modelo há muito comum em vários países e que vai aparecendo em Portugal, a eliminação de intermediários torna mais competitivos produtos de alto valor acrescentado

Co-operative Businesses Are Booming in Tough Times
As dificuldades inerentes a crises económicas, somadas à facilidade que as pessoas têm em associá-las aos seus verdadeiros responsáveis, levam a uma oportunidade para os negócios baseados na comunidade

Entrepreneurs of cooperation
A espantosa história de como as cooperativas de consumo sustentaram comunidades inteiras durante a grande depressão e foram depois ilegalizadas ou impedidas de operar por causa de pressões políticas durante a Guerra Fria. Não é preciso reinventar a roda!

To Build a Community Economy, Start With Solidarity

A soliedariedade é algo muito diferente da caridade. Uma é horizontal, a outra é vertical. Importa imbuír todos os serviços de espírito solidário, perdido durante as últimas décadas para o consumismo e individualismo, que agora se revela auto-destrutivo.

Habemus Ager!

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Após meses de procura, negociação e muita espera tenho o meu próprio espaço, graças também à generosidade e abertura de quem o cede.
Estou tão contente como aterrorizado, mas espero que nos próximos anos consiga materializar muito do potencial que vejo neste lugar e algumas das coisas que defendo em relação a alimentação, agricultura e comunidade. Vou procurar colocar aqui o progresso das coisas.

Inspirar, expirar e mãos à obra!

Encontrar Terra

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Tendo crescido num subúrbio no seio de uma família sem qualquer ligação ao mundo rural, o que é relativamente raro em Portugal, encontrar um lugar tornou-se incrivelmente difícil, apesar de por todo o lado ver solo agrícola subaproveitado ou mesmo não utilizado que parecia troçar da minha condição de desterrado, que está prestes a alterar-se.

Como algumas pessoas devem de certeza passar pelo mesmo, deixo algumas dicas, tendo em conta a salvaguarda de existirem imensas especificações para cada situação. No meu caso procurei no Minho, no mínimo um hectare contíguo numa região onde domina o minifúndio, e o objectivo era arrendar.

Alguns critérios para definir as zonas a escolher:

- Definir as necessidades gerais em termos de características de área e endafoclimáticas para as culturas escolhidas, em termos de altitude, pluviosidade, composição geral dos solos da região, entre outras
- Determinar que áreas são logisticamente mais viáveis e que estão próximas de pontos onde posso publicitar e vender os meus produtos e/ou onde existe um mercado local próximo que absorva os produtos e serviços (neste caso entrepostos e cooperativas agrícolas e uma cidade por perto)
- Encontrar locais onde já sejam produzidas culturas idênticas ao que pretendo produzir e onde existe apoio técnico e material ao tipo de actividade que quero desenvolver
- Encontrar que áreas têm aspectos interessantes do ponto de vista da valorização da produção, como produtos DOP ou IGP que interessem, se são áreas identificadas com dada produção de qualidade ou consideradas como Zonas Desfavorecidas (para âmbito de candidatura a apoios).
- Definir que valores se podem pagar pelo arrendamento (ou compra, se for o caso) e que atenuantes podem valorizar mais ou menos dado local, como despesas quotidianas de deslocação e habitação
- Definir que locais são interessantes para desenvolver a vida quotidiana local

Ser proactivo:

- Coloquei anúncios em papéis A5 com o que procurava e contacto em cooperativas, juntas de freguesia e cafés junto das áreas que me agradaram. Tive muitas chamadas interessantes mas por acaso não encontrei desta forma
- Circulando bastante e com os olhos abertos por toda a região de interesse, ao encontrar um local possível procurar o proprietário através dos vizinhos. "Melgar" sem descanso até obter uma resposta concreta, sendo totalmente transparente e assertivo com os objectivos
- Recorrer a pessoas que conheçam muitos proprietários numa região, como são os engenheiros da cooperativa ou que façam projectos de investimento na zona, as pessoas que normalmente fazem limpezas de terrenos (normalmente feitos por propietários ausentes de quintas) ou outros.
- Não rejeitar à partida possibilidades oferecidas por amigos de amigos ou familiares distantes que têm propriedades na família ou desafiá-los a utilizar esses espaços produtivamente.
- Apesar de serem raros, averiguar se o concelho da área de interesse tem uma iniciativa de Bolsa de Terras
- As imobiliárias NÃO são um bom meio de encontrar terrenos agrícolas a preços verosímeis, mas não custa ver um site agregador de ofertas para ver se existe algo


Problemas mais comuns são normalmente porque o proprietário:

- Não quer arrendar porque considera que "fica depois sem o terreno", porque "você depois nunca mais sai"
- Vai arrendando informalmente mas não quer assinar qualquer contrato
- Quer um valor irrealista para a renda ou não admite um prazo razoável (o mínimo legal são 7 anos)
- Não tem o imóvel em situação regular ou está a meio de um processo de partilhas
- Não se sabe sequer quem é o proprietário legal ou onde se encontra (muitas vezes emigrado)

As soluções possíveis são:

- Demonstrar que um contrato de arrendamento protege ambas as partes
- Que não faz sentido arrendar sem rentabilizar e o valor das rendas está tabelado (no meu caso a  média pedida, para condições muito variadas, foi de 500€/ha/ano)
- Há que verificar dívidas, descrição e proprietário nas Finanças antes de qualquer compromisso
- Alegar que tirar algum rendimento e manter o terreno limpo e vedado já é um "lucro" do arrendamento


Boa caçada!

Ohrwurm [VI]

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Waldenomania [XI] : Ficção científica, ficção bucólica

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Alguns filmes de ficção científica, como o Minority Report (acima, onde a Samantha Morton parece estar a dar o dedo ao futuro com a sua leitura analógica) partem sempre de uma esmagadora distopia urbana ultra tecnológica onde invarivelmente se desencadeiam os conflitos morais necessários ao enredo, para irem terminar numa fantasia de fuga invariavelmente caracterizada por um isolamento num ambiente "natural" ou agrícola.

Esta é uma fantasia literalmente no caso do Brazil (acima) ou (talvez?) do Blade Runner (abaixo, versão do Director's Cut) em que uma ruralidade redentora aguarda os protagonistas no termo das suas provas, para um resto de vida descontaminante. No Brazil é uma bela mentira para reforçar o destino inexorável e tragicómico que é o tom do filme. No último caso esta dicotomia moral demasiado evidente e redutora talvez esteja na base da decisão de remover este final tentador.