Hortas Comunitárias em Portugal [IV] : Hortas do Ingote

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@JN
















Génese:
Coimbra, Bairro do Ingote por CM de Coimbra, Escola Superior Agrária de Coimbra e Junta de Freguesia de São Martinho do Bispo em 2004, aproveitando pequenos lotes de terreno municipal num bairro habitacional

Área / Nº de participantes:
25 talhões de 150m2, 3750m2, ocupação 100%, expansões anunciadas

Objectivos:

Complemento do rendimento familiar pela subsistência, aproveitamento e cuidado de espaços residuais em habitação camarária, construção de comunidade

Sítio da Internet:

Notícia JN 1, Notícia JN 2

Notas: 

Um dos primeiros projectos camarários com preocupações sociais e económicas, salientando a boa manutenção de espaços comuns em bairros camarários pela produção hortícola. Expansões análogas semelhantes anunciadas 4 novas expansões noutros bairros da cidade.

Apontamentos [I]

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A empresa de consultoria agrícola Motivos Campestres realizou um Mini-Curso de Nutrição Vegetal em Agricultura Biológica, onde falou do tema e apresentou produtos de um empresa dedicada a este negócio
Para além dos aspectos mais técnicos e específicos desta área, houve bastante informação interessante mais dispersa por outros temas:

- A Oliveira de variedade "Cobrançosa", autóctone é bastante rústica e imune a doenças, necessitando apenas de algum reforço em cobre no solo. A variedade autóctone "Borrenta" é muito mais vulnerável.

-A melhor rotação para a Batata em Portugal é de 6 anos, com uma plantação bem cedo, protegida da geada (por causa do míldio), de forma a ganhar o mercado fora-de-época

-Soluções de agricultura de pequena-média escala: fugir às épocas de massificação de grandes produtores (temporã e tardia); produção cooperativa sob uma marca; focar produtos de valor acrescentado ou culturas mais invulgares (mirtilo, castanha)

- Solos portugueses têm uma PH sobretudo ácido, precisando de uma mistura de calcário e magnésio (+ boro), parte das carências da planta são avaliadas pela análise das folhas

- Se um composto tiver menos de 15% de nutrientes é matéria orgânica, se tiver mais de 15% é um adubo orgânico

- O estrume é essencial para construir a estrutura do solo, especialmente numa fase inicial, mas ter cuidado com o seu consumo de azoto

- Como os cavalos não são ruminantes o seu estrume não elimina as sementes, precisando de ser curtido ou enterrado por períodos mais longos

- Cuidado com o que se compra com a designação de guano porque como é uma mistura pode ter componentes não decompostos, resíduos de aviário, composição irregular, etc.

- Uma análise de solo é um excelente investimento, custa 30€ e dura 5 anos, dando dados imediatos para correcções se o diagnóstico for bom

- O estrume pode acabar por ser caro porque do seu peso total 70% é água (fresco), se estiver seco melhora imenso a capacidade de retenção de água, se estiver fresco num clima húmido pode atrair doenças

- Na floração de plantas nunca se deve ter aplicações de produtos ou qualquer outra operação

TV Rural [V] : Open Source Ecology

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Global Village Construction Set in 2 Minutes from Marcin Jakubowski on Vimeo.

Um projecto que junta técnicos de várias áreas para desenvolverem máquinas, técnicas e instrumentos que façam a ponte entre o melhor da agricultura e construção do passado e as necessidades do presente.
Os resultados são partilhados gratuitamente online.

Apontadores [IV]: Gaba-te Cesta, Que vais à Horta

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Apontadores sobre Hortas Urbanas, a actualizar progressivamente 

 

 

Horta dividida por três dá 500kg de batatas


"O pedreiro nunca se deteve a calcular quanto poupa com a horta mas sabe que "ao fim do ano ajuda muito". Para Emílio a horta serve um segundo propósito: matar saudades dos campos da sua aldeia, em Vila do Conde, que deixou para trás há mais de 30 anos."

Isto dá de tudo durante todo o ano

"Beatriz Gonçalves foi mãe e, quando queria regressar ao trabalho de administrativa, estava despedida. Solidariedade e justiça do Portugal precário, que ataca o espírito e o rendimento familiar. No Castelo da Maia, uma nesga de cem metros quadrados na horta de subsistência dá-lhe algum alento."


Hortas urbanas aliviam a crise

"Será a crise nas mãos de cada cidadão capaz de pegar numa enxada e de amanhar a terra? As hortas comunitárias e biológicas, que surgem por todo o país, não serão o milagre das tesourarias domésticas, mas é certo que fazem muito bem aos espíritos."


Se não fossem as hortas não tinham que comer

"Cebola, batata, tomate e feijão verde são alguns dos produtos cultivados nas hortas urbanas do concelho do Seixal, que totalizam já 644 núcleos espalhados por 54 hectares. A maioria dos hortelãos pratica esta actividade para alimentar a família."


Um pequeno oásis dentro do Balteiro

"José e Clarice é que nunca conseguiram esquecer o bichinho da agricultura. Quando se reformaram tiveram uma ideia: usar um separador de estrada, junto à escola, para fazer pequenos cultivos. E criaram um pequeno paraíso dentro do Balteiro."


Gado e Hortas essenciais nas cidades

"São as nossas origens agrícolas, que, infelizmente, estão tão esquecidas. A agricultura urbana deveria ter integração obrigatória no planeamento urbano, e o gado e a pastorícia são peças fundamentais nesse processo"

  

"As pessoas que estão instaladas na cidade nunca iriam aceitar essa mudança para o ambiente rural, isto porque a maior parte dos lisboetas vêm de famílias que sofreram misérias no meio rural e, por isso, não iriam aceitar dar esse passo atrás"

Hortas urbanas conquistam terreno em Portugal 

 

"Com origem em grande parte na migração rural, estas hortas foram nascendo do improviso e da vontade de ocupar o tempo mas, actualmente, começam a ser encaradas pelas autarquias como forma de intervenção ao nível da sustentabilidade do meio ambiente ao possibilitar a proliferação dos espaços verdes"

Horta da Junta de S. Victor dá ajuda no campo social 

"São alguns (poucos) metros quadrados que acolhem uma horta biológica, no quintal da Junta de Freguesia de S. Victor, Braga. O resultado da venda dos produtos reverte para o projecto SA de apoio aos sem-abrigo."

 

Horta Urbana provoca críticas dos socialistas 

 

“O PS considera absurda a ideia de criar neste espaço uma horta, pelo seu valor cultural e localização. A melhor medida seria tornar este espaço visitável e encontrar uma solução para o projecto da horta em solos agrícolas, nomeadamente no Patacão, onde a Câmara de Faro detém terrenos”


Quinta agrícola cultivada por pessoas com deficiência distinguida com Prémio 

 

"A Oficina Agrícola do Centro de Apoio a Deficientes do Alto Tâmega surgiu em 2004 como um projecto pioneiro no distrito de Vila Real. Munidos de sacholas, 11 utentes com necessidades especiais, que pouco falavam uns com os outros, aprenderam a trabalhar a terra."


Cidadãos criam espaço para agricultura não convencional no centro do Porto

"Movimento pretende aproveitar terrenos abandonados para fazer agricultura sem recurso a químicos. Qualquer pessoa pode cultivar um lote no centro do Porto sem qualquer custo."

Está tanto frio, está tanto calor

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"Vede como o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando com paciência que venham as chuvas temporãs e as tardias"
carta de S. Tiago 5,8 via 

Sempre que cada estação atinge o seu zénite, abrem os noticiários com os "alertas-laranja", acompanhados de entrevistas de rua em que se geme pelo calor/frio/chuva/seca que aflige nesse momento.
Acontece com tanta regularidade que me pergunto se 365 dias é o tempo exacto em que a mente humana elimina da sua memória de longo prazo os ciclos naturais do clima ou então se, por outro lado, como temos quotidianos tão indiferentes ás estações, vivendo todas as nossas vidas quase exclusivamente debaixo de tectos climatizados, as mudanças do tempo nos surpreendem e chocam verdadeiramente sempre que aparecem de "surpresa" ano após ano.

Depois de tantas vezes atirar o comando para o lado após estas não-notícias ou rolar os olhos à conversa miúda sobre o tempo, tive uma revelação de um motivo, provavelmente imaginário: se calhar este tema de conversa é um vestígio da momento não muito distante em que o clima era central à organização do quotidiano e das actividades, e o principal factor que determinava o sucesso comercial numa colheita ou o conforto e a saúde em casa. Falava-se do tempo para coordenar actividades e rituais, o que deixou um legado de dezenas de provérbios indicativos.

Não sei se o que sucede hoje é uma inconsciente homenagem ao tempo dos outros tempos ou se é mesmo falta de assunto.

Agricultura Urbana- Casos de Estudo [III]

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@LittleCityGardens

"SPIN-Farming" e "Little City Gardeners"
(e muitos outros...)

Escolhi agora dois exemplos de empresas de agricultura urbana nos EUA que se destacam dos dois anteriores porque foram criados de raiz para serem modelos de negócio orientados para o lucro (o primeiro caso começou como uma experiência doméstica e o segundo como instituição de apoio social).

Ambas são micro-empresas que se dedicam à produção de alimentos (sobretudo hortícolas) em modo de produção biológica (versão EUA) e estão baseados em duas mega-regiões metropolitanas dos EUA: Filadélfia com 6 milhões de habitantes e São Francisco com 8 milhões. Estes grandes mercados, combinados com a consciência crescente em relação à qualidade da alimentação, o comércio justo, o "locavorismo" e a agricultura biológica, tornam possível criar uma base rentável para estes negócios que estão a aparecer em grande número nos EUA. São apenas dois exemplos de vários.

Ambos começaram por ser negócios de jardinagem e consultoria em paisagismo e reconfiguraram-
se para ter também a produção hortícola, fornecendo vários serviços:



- Instalam "Jardins Produtivos" e hortas para uso doméstico ou comercial

-Alugam locais sub-aproveitados, baldios, etc para complementarem os espaços próprios que têm, negociando compensações com os senhorios. Ex. Uma escola contrata-os para conversão de parte do espaço numa horta e o "pagamento" é feito por uma cedência de espaço num período de tempo.

-Fazem formação em horticultura intensiva, paisagismo, jardinagem, etc.

- Fazem produção de hortícolas para mercados biológicos locais, explorando nichos acessíveis a pequenos produtores como: saladas frescas pré preparadas, germinados e rebentos para saladas, plântulas para transplante, flores comestíveis, ervas aromáticas frescas, refeições crudívoras e veganas frescas pré-preparadas, alimentos para aves biológicos, sementes, etc.


A empresa SPIN Farming tem uma interessante foto-galeria no site deles. Apesar de estarem bastante dependentes de uma demografia bastante específica destas grandes cidades parece-me que existe potencial em Portugal para meios de produção semelhantes para um mercado menos restrito. Gostava de vir a saber se este tipo de actividade consegue ser competitiva com o nível de "educação alimentar" que temos, que julgo estar bastante a leste do significado político e ambiental da comida atribuído nos EUA mas que valoriza mais os seus aspectos tradicionais e autóctones.

Truísmos [VI]

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"(...) whoever could make two ears of corn, or two blades of grass, to grow upon a spot of ground where only one grew before, would deserve better of mankind, and do a more essential service to his country, than the whole race of politicians put together."

Mãos que libertam

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No post anterior fica o primeiro episódio do regresso desta série, desta vez 40 anos mais à frente, na ante-câmara da agricultura motorizada. Parece um oxímoro: um reality show didáctico.
O enorme sucesso da primeira série no Reino Unido foi assumido pela produtora BBC como inesperado, o que não é surpreendente uma vez que o programa foca frequentemente técnicas próximas de um fulminante mas discreto desaparecimento, às vezes cingidas a um punhado de sobreviventes que a elas dedicam os seus tempos livres.

Mas o seu êxito parece fácil de explicar- vivemos num momento em que ninguém sabe de onde vem aquilo que se usa ou que se come e onde a divisão de trabalho está tão estratificada e diluída na sociedade que sentimos que o trabalho ultra-especializado que a maioria de nós desempenha, para comprar o que usamos e comemos, não tem qualquer relevância prática ou está muito distante da proveniência das coisas de que verdadeiramente precisamos. Falta por vezes um sentido de finalidade no trabalho que contribua para que nos sintamos úteis também enquanto membros da sociedade.

Nada disso existe nestes episódios- os participantes sabem reproduzir salmão, fabricar ferramentas e plantar morangos e dezenas de outras coisas igualmente díspares, os locais de trabalho envolvem toda a região, os dias são  completamente diferentes e as aptidões muitas, com a rotação das estações a transformar constantemente o quotidiano dos meses anteriores, obrigando a pôr em acção um novo leque de qualidades.
 Nesta série, pessoas normais (são académicos, não agricultores ou artesãos) aprendem a fazer tudo a partir do nada, recolhendo imediatamente os frutos do seu trabalho, ficando tão surpreendidos como nós com o que afinal se consegue fazer à mão.
Cada sucesso provoca no público muita empatia, e por vezes imensa inveja ou alguma tristeza pela delicadeza e engenho de coisas que a modernidade supostamente tornou redundantes ou sem valor.

Imagino que se tenha uma sensação de poder e de realização, ao ser capaz de satisfazer muitas necessidades básicas directamente. Comparando com o actual percurso do trabalho, que orienta quase exclusivamente para o "atalho" da aquisição, imagino também que dê muitas vezes uma incrível sensação de liberdade.
Durante um punhado de episódios, podemos partilhar dessa liberdade.

TV Rural [IV] : A melhor série de sempre outra vez

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À procura de $$$

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Mesmo espartana, a experiência de dois anos de Thoreau teve como uma base uma instalação de custo zero (os terrenos eram da família) e algumas poupanças que, mesmo irrisórias, participavam quotidianamente naquilo que não podia produzir (cereais, óleos e sal, sobretudo).
A auto-suficiência é um ideal bastante heróico e motivador mas não é totalmente realista se o que se pretende é uma conciliação da máxima qualidade de vida com o mínimo de "custos de manutenção".
É uma relação tensa, cujos atritos são difíceis de gerir, mas a síntese faz tudo valer a pena- mesmo se, como diz o T. , podemos não acumular riqueza enquanto nos tornamos "milionários de tempo".
E como ganhar o suficiente para cobrir o que for necessário em relação a saúde, educação, lazer e também o que não se produz?

Foram surgindo umas dicas ao longo do tempo:

CSA: Criar uma cooperativa com um cabaz mensal de determinado produto excedente, que dadas as pequenas dimensões da exploração teria que ser algo de valor acrescentado, como:


Produção Extensiva de Carne : Teria que ser de gado miúdo e de baixas exigências de alimentação, como caprinos ou ovinos, se houvesse nas imediações pasto disponível em baldio ou em arrendamento. Ou então aves, em combinação com pomar. Seria sempre em pequena escala, para cobrir gastos em alimentação, sobretudo.


Produtos Transformados: Produtos passíveis de serem fabricados com um pequeno excedente de produção, como mel, queijo, molhos, etc.Isto agora que a legislação permite vender e fazer isto em casa.


Conservação de espécies Autóctones: A par do espaço disponível e da produção de produtos de origem animal, poderiam ser escolhidas espécies autóctones que são alvo de apoios da PAC, alguns são fornecidos e gratuitamente controlados por associações específicas.


Rações para MPB: Com o contacto com pequenos produtores e amadores constata-se facilmente que nem as rações disponíveis para aves são económicas nem é possível adquirir lotes sem presença de OGM ou cereais de má qualidade.


Trabalhos Sazonais de Cultura: Por todo o país existem épocas em que se pode complementar o rendimento com a apanha de uva, laranja, cereja, azeitona, etc nas explorações de outros.


Plantas Aromáticas Secas: É um sector de valor acrescentado em crescimento no país, uma vez que o clima providencia épocas de crescimento mais longas e pode ser exportado já seco. Existe um momento propício à constituição de cooperativas deste tipo de produção.


Banca de Frescos: É a solução tradicional dos produtores, mas sofre de concorrência directa e intensa tanto de agentes locais como internacionais o que obriga à criatividade e conveniência- em vez de se venderem os legumes isolados, fazer molhos para sopa (tipo "ramo creme de alho françês para 3 pax"), saladas frescas já feitas, ou a vender transplantes de rebentos no início das épocas, por exemplo.


Serviços de Biodiversidade: É difícil explorar o mercado de donativos e serviços públicos, mas podem ser muito compensatórios (em satisfação pessoal e bancária) - podem ir do controlo de fogos usando gado caprino,  à plantação de árvores reconstituição de habitats, etc. Tem que haver experiência e know-how técnico demonstrado e fundamentado para conquistar confiança.


Formação: Um local pode ser o palco de formações sobre artes rurais de qualquer tipo, não apenas agrícolas e não apenas restringidas ao que é praticado ou que se conhece, um bom programa para acompanhar outras fontes de rendimento como:


Turismo de Natureza: Este tipo de turismo certificado abrange várias tipologias, desde as mais convencionais Casas de Campo, até ao Glamping sazonal e o agro-turismo. Tem condições específicas para ser bem sucedido, nomeadamente estar numa zona classificada (pelo menos Rede Natura) que seja imediatamente acessível a partir do empreendimento e outras valências como refeições e zona para banhos.


Dentro destas hipóteses existe uma diversidade enorme de exigências em termos de localização, área, acesso a mercados, competências, etc. mas não é de todo impossível a convivência de quase todos, mantendo o fundamental: um quotidiano variado e gratificante e a colmatação de necessidades económicas (e não só),  fazendo aquilo de que se gosta.

Hortas Comunitárias em Portugal [III] : Horta à Porta

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Imagens da CM de Matosinhos
















Ano de criação / Génese:
AM do Porto (excepto VN Gaia), 2003, Lipor - Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto, aproveitando pequenos lotes cedidos pelas autarquias abrangidas

Área / Nº de participantes:
13 hortas, 400 talhões, 3,5 hA, ocupação 100%, chegou a atingir 1400 inscritos em lista de espera

Objectivos:

Formação em Compostagem doméstica (obrigatória), processamento de resíduos, boas práticas ambientais em horticultura e cozinha

Sítio da Internet:

Sítio Oficial

Notas: 

Um projecto pioneiro e exemplar em Portugal, sendo provavelmente a maior influência da expansão destes equipamentos no país, criação de um espaço formativo nas áreas da cozinha, ambiente e agricultura com pequenos módulos diários e a preço acessível nas instalações da Lipor. Acções centradas em torno da compostagem e redução de resíduos domésticos .

Léxico [II]: Transição

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As Cidades em Transição são uma iniciativa que começou no Reino Unido em torno de tentativas de adaptação da Permacultura a meios urbanos. Existem bastantes aspectos que me deixam intrigado em relação a aquilo que se propõe alcançar, nomeadamente a tentativa de abranger comunidades urbanas com um equilíbrio do consumo de recursos e estilo de vida "lento" com os confortos e benefícios da contemporaneidade. Em Portugal surgiram no último ano algumas iniciativas, sendo Paredes a primeira e estando a emergir uma aqui perto, na Universidade do Minho. O fórum unificador tem sido o Permacultura e Transição Portugal.

A tangência com o movimento muito mais difuso e individualista do ambientalismo aplicado às cidades fica por aí, uma vez que a maior parte da retórica da Transição está em torno da ideia de "resiliência", ou seja, focando a capacidade de dada comunidade de tolerar o stress económico, energético e ambiental, que é dado como adquirido no futuro a curto prazo. Para mim esta motivação é relativamente secundária- se a ideia é convergir para estilos de vida com menor impacto, tirando partido do potencial de comunidades, então isso é algo que vale por si, sem aditivos em relação a ameaças. Mesmo se estes não existissem, faria sentido "transitar" de qualquer modo.


Album [IV]

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Depois de apresentar estas versões contemporâneas da propaganda de guerra em torno da agricultura de subsistência, aqui ficam alguns dos originais dos anos 30-40.

Neo-Rurais [II]: Dandies

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"When young professionals and the socially hip raise chickens in their backyards, newspapers do articles with slideshows.When us Mexicans do it? People call code enforcement."

 Esta frase retirei do espectacular ranting da Broke-Ass Grouch num artigo da revista Grist, que está cheio de troços citáveis (leitura obrigatória) e vem na sequência do facto de o movimento de neo-rurais estar tão embalado nos EUA que já se faz uma espécie de estilização do frugalismo, ou seja, uma apropriação das artes rurais por parte do mesmo fetichismo material da cultura de consumo.

Em Portugal isto não se aplica: nem as galinhas desapareceram verdadeiramente dos quintais (ainda), nem existe um movimento significativo de jovens vindo das profissões liberais a dedicarem-se a artes rurais. O "regresso à terra" já tem mais de 40 anos, mas esta última reencarnação é menos uma reacção política e espiritual do que um projecto profissional e de estilo de vida, que permita dignidade e conforto com menores requisitos económicos. Pode ser interpretado como uma reacção cultural à semana de 48 horas criada para suportar o endividamento e consumo mas isso não lhe retira legitimidade.

Album [III]

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Muito boas estas versões contemporâneas da propaganda pelas "hortas de guerra" e pela economia de recursos na Segunda Grande Guerra, dirigidas à "frente doméstica" nos Estados Unidos e Reino Unido.
Posters estão à venda na loja Etsy Victory Gardens of Tomorrow.

Neo-Rurais [I]: Quem?

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A primeira vez que ouvi esta expressão foi no sentido pejorativo, para descrever aqueles que, tendo uma casita rural que sobreviveu às partilhas de património familiar, a usavam para revisitar, em nome do ócio, o contexto físico da vida dos seus antepassados. A relação produtiva com a terra teria sido entretanto substituída pelo relvado e piscina, sobrevivendo uns quantos limoeiros, vinhas ou oliveiras (um privilégio!). Outros ainda atribuíram ao termo uma relação com centenas de expatriados europeus relocalizados nos distritos Além-Tejo, com preços de propriedade rural mais baixos, e subsistindo em parte de reggae, favas e didgeridoos (não me parece mal). Não me consigo rever nestas posturas levemente desdenhosas nem nos seus alvos.

Perguntei-me se existiriam pessoas a mudarem-se para o campo para dele viverem directamente, sem ser (exclusivamente!) por hedonismo, à semelhança do que está a surgir com muita força nos EUA. Se existissem, esta expressão seria, na falta de melhor, uma boa descrição para uma modesta onda de novos habitantes que não estariam a retomar aquilo que se fazia antes nem seriam mesmo descendentes dos que saíram. Tampouco serão como os protagonistas desta reportagem: commuters rurais que fazem do campo cenário; auto-exilados culturais ou versões locais de walkabouts vocacionais.  São pessoas que valorizam o meio rural, mas não sei se serão o seu futuro.

TV Rural [III] : Les Glaneurs et la Glaneuse

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Hecatombe de Fertilidade

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Waterloo: macabra e insuspeita fonte de adubo, aqui mostrado em manobras de pré-compostagem





























 Um dos aspectos que são mais misteriosos e interessantes para mim em relação à Agricultura são as formas de renovação da fertilidade com o mínimo de inputs. Sabendo que o objectivo é extrairmos os nutrientes de que precisamos sob a forma de alimentos de origem animal e vegetal que conseguimos comer, como podemos compensar aquilo que se "perde" para nos manter vivos dependendo apenas de processos naturais de renovação de fertilidade?

Mesmo devolvendo aquilo que pudermos dos nossos desperdícios temos sempre que fazer alguma operação de concentração. Primeiro usou-se o sistema das abatidas-queimadas (ainda existe em muitos países), com pousios que chegavam a décadas, depois de muitas outras soluções (que merecem um texto dedicado) evoluiu-se para a situação actual, em que se depende da indústria extractiva para nos atolarmos em nutrientes de forma ineficiente. Algures pelo meio ficou a dependência dos estrumes verdes e castanhos em que por exemplo se pastava no monte para recolher o estrume no estábulo à tarde e noite ou em que se recolhiam folhas caídas nos bosques das imediações, tudo para "importar" esta produção vegetal não comestível para áreas muito mais concentradas nos campos de cultivo da forma menos laboriosa possível mas dependente da atenção humana directa.
Com a procura de meios fáceis de obter fertilidade conta-se que o campo de batalha de Waterloo foi durante anos escavado por agricultores da zona em busca de ossos para moer e aplicar nas culturas!

Queria chegar ao seguinte: é monumental a quantidade de fertilidade que se inutiliza para sempre em aterros contaminados todos os dias, em todo o lado (mais de 40% dos resíduos são compostáveis!). Este potencial orgânico foi importado de minas e fábricas para os alimentos cujos resíduos depois deitamos fora mas que contêm ainda quantidades apreciáveis de matéria-prima valiosa (composto vende-se a 1€/l).
Basicamente, tenho que arranjar um vermicompostor adaptável a um apartamento para deixar a compra bienal de estrume para o talhão.

Apontadores [III]: Ó que linda rama!

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Quinta das Mogas: Os Podadores de Oliveiras
 Um curto texto sobre uma experiência pessoal na poda de oliveira, com um curioso artigo de memorabilia: sabia que existia um cartão de podador mas não fazia ideia que havia um específico para os que fazem a toilette ás Oliveiras!


Xuxudidi: O Azeite
 Um relato agridoce com o custo do sucesso da primeira colheita própria de azeite. Mas não vale o azeite produzido tradicionalmente mais do que o do supermercado? E não adquire um valor inestimável se sair da nossa terra, através das nossas mãos? Mesmo que tivesse custado 12€/l (preço comercial do litro do tipo "tradicional") invejava a experiência. Fotografia fantástica, como é habitual.


Quinta das Abelhas: A Day at the Olive Mill
Mais um blogger/agricultor em Portugal com a sua experiência de produção própria de azeite, que traz a experiência da espera junto à prensa mais uns desabafos sobre as percentagens de pagamento do lagar ("maquia").


Fruto da Notícia: Recordar outros tempos
Uma detalhada e interessante descrição do processo de produção tradicional de azeite, que não estará hoje assim tão diferente. O meio de processamento é um dos benefícios esquecidos deste óleo- gasta muito pouca energia, os desperdícios (bagaço) são uma boa biomassa/composto, não tem um processo de refinação química, etc. Não sabia que os pobres tinham direito à azeitona que estava caída, podendo respigar.


Jornal de Negócios: Corrida ao Ouro Verde
Uma extensa série de artigos de homenagem ao azeite enquanto símbolo cultural e também como investimento, ainda estou a ler mas já me apercebi de muita informação interessante: não sabia que o melhor azeite é o que está em cima num recipiente ou que a Espanha produz mais de 40% de todo o azeite do mundo, por exemplo.

Público: Grupo de Trabalho queixa-se de falta de dados mas olival intensivo pode não ser prejudicial
  O estudo parece ser inconclusivo mas tende a favor do olival super-intensivo e tradicional sobre o intensivo. A questão do impacto ambiental do azeite é um tema que ainda ando a ler mas não me parece que exista grande comparação possível face a alternativas, em todos os aspectos

Truísmos [V]

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