Está tanto frio, está tanto calor



"Vede como o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando com paciência que venham as chuvas temporãs e as tardias"
carta de S. Tiago 5,8 via 

Sempre que cada estação atinge o seu zénite, abrem os noticiários com os "alertas-laranja", acompanhados de entrevistas de rua em que se geme pelo calor/frio/chuva/seca que aflige nesse momento.
Acontece com tanta regularidade que me pergunto se 365 dias é o tempo exacto em que a mente humana elimina da sua memória de longo prazo os ciclos naturais do clima ou então se, por outro lado, como temos quotidianos tão indiferentes ás estações, vivendo todas as nossas vidas quase exclusivamente debaixo de tectos climatizados, as mudanças do tempo nos surpreendem e chocam verdadeiramente sempre que aparecem de "surpresa" ano após ano.

Depois de tantas vezes atirar o comando para o lado após estas não-notícias ou rolar os olhos à conversa miúda sobre o tempo, tive uma revelação de um motivo, provavelmente imaginário: se calhar este tema de conversa é um vestígio da momento não muito distante em que o clima era central à organização do quotidiano e das actividades, e o principal factor que determinava o sucesso comercial numa colheita ou o conforto e a saúde em casa. Falava-se do tempo para coordenar actividades e rituais, o que deixou um legado de dezenas de provérbios indicativos.

Não sei se o que sucede hoje é uma inconsciente homenagem ao tempo dos outros tempos ou se é mesmo falta de assunto.

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