12 Conselhos simples para a produção agrícola de pequena escala

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Fruto de alguns apontamentos feitos em formações relacionadas com este tema. Os pontos não estão por nenhuma ordem particular, embora uns tenham bem mais importância do que outros.

1. Variedade, consociação, rotação
É sempre essencial utilizar os ciclos naturais que servem como prevenção para quebras de produção por vários motivos, partindo sempre do ciclo regenerativo e de construção do solo fértil, a base de tudo.

2. Integração animal e vegetal
Numa produção artificial e deliberada de alimentos como é a agricultura é necessário usar a complementaridade natural de espécies vegetais e animais para o seu benefício mútuo.

3. Usar os comportamentos naturais das espécies
Respeitar a especificidade das necessidades de cada espécie na sua adaptação ás circunstâncias da exploração é o meio mais económico e fácil de evitar problema.

4. Toda a estação tem os seus frutos
Trabalhando com uma produção diversificada e distribuída em diversos picos durante o ano pode permitir maior resiliência face a quebras ou variações na produção e no ritmo de trabalho.

5. O que faço só poderia ser feito aqui
Especificidade e diferenciação são o mesmo, uma produção adaptada à região permite aproveitar os seus frutos específicos como elemento diferenciador, o que pode incluir produtos DOP/IGP/ETG.

6. Na quinta não existe lixo
A eliminação ou reaproveitamento total de todos os resíduos ou excessos é sinal de que existe uma coordenação e complementaridade correcta entre as diversas produções.

7. O excesso dos vizinhos é a minha sorte
Se a exploração não é capaz de criar este ciclo fechado de reciclagem de materiais orgânicos, é possível incluir produções vizinhas de forma a complementar o ciclo, como transformar refugo frutícola em ração.

8. Clientes têm a chave da casa
Numa produção diferenciada de pequena escala é importante partilhar os processos de produção com os clientes que reconhecem esse valor acrescentado, e promover a visita física ou virtual no marketing.

9. Não estou a competir com a Argentina ou com a Alemanha
Não faz sentido competir com mercados que produzem recorrendo a subsídios maciços ou exploração laboral e ambiental desregrada, mas sim fazer o contrário, procurando um nicho específico.

10. Comer na época é comer sempre fresco
Apostar na qualidade de ingredientes que não dependem da sua facilidade de armazenamento ou ainda na precocidade relativa de algumas culturas exportáveis para outros climas.

11. Aproveitar os residentes da minha terra
O segredo da produção diferenciada pode estar em conhecimentos da gastronomia e agricultura local, e a união de produtores faz a força, podendo reduzir custos de comercialização e processamento.

12. Só se tinha tantos porcos quantos as árvores permitissem
Existem variadas densidades para variados produtos e tipos de produção, a rentabilidade não depende do tamanho mas do grau de investimento e tempo, deixando o local decidir o que produzir.

22 de Dezembro

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Archimboldo "Inverno"

Waldenomania [VII]

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"Coffer", do projecto "This Must Be The Place"

Album [XV] : Açores

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Uma ida a um alfarrabista produziu esta colectânea de postais relativos à agricultura nos Açores, que serve para matar as saudades que insistem em aparecer.





TV Rural [XVIII]: Do Minho ao Algarve

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Dois filmes do cineasta António Campos que têm como objecto duas comunidades com modos de vida e localizações praticamente opostas- uma aldeia piscatória do Algarve ("Almadraba Atuneira") e uma aldeia de pastorícia nas Montanhas do Gerês ("Vilarinho das Furnas"). 

A permanência do documentarista dentro destas comunidades durante longos períodos permitiu-lhe não só capturar as suas especificidades e diferenças como também as suas inesperadas semelhanças.
(Não encontrei um modo de ver ou comprar o "Vilarinho das Furnas", agradeço informações)



Parte 2, Parte 3




Truísmos [XV]

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"Existem dois modos de conhecer uma paisagem - uma é percorrê-la, outra é comer aquilo que oferece."

Orlando Ribeiro (ouvido aqui)

Desabafo

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A oferta formativa em Portugal para a agricultura distribui-se em 3 campos: formação profissional equivalente ao liceu; cursos ultra-específicos de fim-de-semana para o mais básico dos amadores e licenciaturas ou formações apenas abertas a técnicos.

Não existe absolutamente nenhum meio intermédio de formação prática e intensiva que permita a conversão de mão-de-obra em produtores qualificados sem requerer anos de aulas, não existe acesso a cursos profissionais sem ser para produtores estabelecidos, não existem estágios nem formação prática e profissional sem ser aquela providenciada em programas dirigidos exclusivamente a desempregados de longa duração.

Em muitos países não é preciso ter um curso técnico para trabalhar na manutenção de espaços verdes, nem 2 anos de treino em máquinas agrícolas que nem carta de condução exigem. A solução foi outra:  "on-the-job training", que permite aprender e fazer rapidamente e ao mesmo tempo e que permite que a mão-de-obra disponível possa rapidamente começar a trabalhar.

Esta formação para o certificado tem que ser complementada por cursos mais pragmáticos que permitam trazer rapidamente mais gente para a Agricultura.

Apontadores [XV] : "Guarda prado, criarás gado"

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Pastagens no vale da Senhora dos Remédios, Povoação


Pastagens ajudam clima
Projecto português reuniu conjunto de sementes de espécies anuais para pastagem com o objectivo de tornar estes espaços aptos a fundos de apoio ao sequestro de carbono no solo

Pastagens biodiversas ganham prémio BES Biodiversidade
Outro projecto nacional de elaboração de misturas para pasto, com o apoio do Banco Português de Germoplasma, desta vez para apoiar a biodiversidade associada à criação extensiva

Greener pastures: How cows could help in the fight against climate change
Os métodos tradicionais de criação extensiva em África, com integração da produção animal e vegetal podem ser adaptados para resolver as questões de produtividade e gestão sustentável da paisagem

Poluição por azoto custa 320 mil milhões de euros por ano à Europa
A maior parte da poluição dos solos e aquíferos por azoto, bem como as maiores perdas de bio-diversidade em zonas agrícolas devem-se à produção de forragens para pecuária intensiva

Pecuária Biológica – uma alternativa viável
Portugal tem muitas áreas com aptidão para a pecuária extensiva, será que a sua valorização passa sobretudo por uma certificação biológica ou pode a especificidade dos métodos tradicionais ser suficiente?

Pasture-raised or organic: Why we can’t do both
Uma produtora de avicultura mostra as contradições económicas que levam sua à escolha entre a certificação biológica e um grau de criação extensiva mais de acordo com os seus princípios e dos seus clientes

"Da Terra"

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@ NoussNouss

Album [XIV]: Unnatural

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Penelope Kenny




Memórias e Ruralismos

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É uma fatalidade: a cada par de décadas reemerge em algum lado um movimento de "regresso à terra". Mas existe algo em comum entre as diversas reencarnações ou são reacções a pressões políticas e económicas, através de uma idealização do mundo rural?



O "back to the land" nos EUA dos anos 70 foi um impulso de isolacionismo ao que era percebido como um falhanço e diluição política dos vários movimentos de jovens do final da década de 60, reforçado por uma crise energética e política da Guerra Fria e que teve o seu expoente intelectual no Ecotopia . Quase de seguida no R.U. a estéril vida industrial dos subúrbios britânicos são contrastados com o programa "The Good Life" e os livros do John Seymour. São influências que se propagaram também pelo norte e centro da Europa sob todo o tipo de formas, garantindo que este conceito ficasse para sempre associado a esta era.
O isolacionismo e o idealismo ditaram a sua fugacidade mas continua um ensaio sobre como dadas opções de estilo de vida podem funcionar como formas de activismo e crítica política e económica.

Tudo isto contrasta com a excepção da realidade portuguesa, em que um outro tipo de concepção idealizada de um singelo e estático mundo rural era eficientemente instrumentalizada para criar um sedutor apelo ao conformismo político e intelectual. Alheia a esta construção propagandista e ao movimento global de recuperação da horticultura DIY via-se nos quintais, a manutenção (até hoje) das galinhas, batatas e couves galegas acompanhadas do inevitável limoeiro e de da prática de alguma produção de subsistência até hoje.
A partir do fátuo boom dos anos 80-90 quaisquer benefícios reais ou potenciais de estilos de vida apenas superficialmente análogos ao do ruralista sonho molhado do Estado Novo (que ainda hoje é imbecilmente invocado) são associados a um passado de repressão política (eficientemente auto-exercida, e que sobrevive até hoje) ou a um contexto de miséria que deixou mais memórias do que saudades.

É difícil identificar-me com os sonhos de um hippie/baby-boomer americano, nem com uma ilustração a lápis da Colecção Educativa dos anos 60, mas existe hoje o contexto certo para algo mais livre, prático e consequente.

Waldenomania [VI]

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Depois do último post tenho a certeza de que Cavaco Silva lê este blogue (bom dia Sr. Presidente!) e decidiu levar a guerra de palavras para a diplomacia internacional:

"No início, Cavaco Silva citou Henry David Thoreau, autor e filósofo americano do século XIX que escreveu o ensaio político Desobediência Civil, uma defesa da resistência individual ao Estado. O pensamento de Thoreau, por vezes descrito como um anarquista, influenciou Ghandi e Martin Luther King. Cavaco não citou Desobediência Civil, mas outra obra de Thoreau, "Walden ou a Vida nos Bosques"."

no Público

Aníbal vamos encontrar-nos, quero perceber como é que leste (?) os mesmos livros que eu e acabaste com uma interpretação completamente oposta. E recomendo uns terapêuticos 2 anos nas margens do Alqueva.

Mandar pastar

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O presidente desta República que também é nossa diz que devemos seguir o exemplo do "moiral, que ao longo dos séculos conduziu os seus rebanhos para as terras altas da Serra da Estrela" e para quem "não havia fins-de-semana, não havia férias, feriados nem pontes em nenhumas circunstâncias».

É perfeitamente normal para quem tem uma afinidade muito recente a tudo o que é rural que cometa erros de julgamento, por exemplo não ter a noção de que os pastores sem feriados nem folgas são extremamente recentes e um resultado do fenómeno de abandono rural incentivado por certas legislaturas de há umas décadas atrás, que acabou com o hábito das vezeiras, que permitiam permutas na gestão dos rebanhos comunitários, um hábito que tanta fama de preguiçoso deu aos pastores em séculos passados, mas que a mim causa mais admiração do que um qualquer imaginário masoquista transumante.

Aproveitava para recomendar ao PR o documentário amador (auto-produzido e que se pode encomendar) "Névoa no Vale" ou esta excelente reportagem da TSF, sobre o último grande rebanho comunitário gerido em vezeira, na aldeia de Covas do Monte (foto minha cima).

TV Rural [XVII] : O Nosso Veneno Quotidiano

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Este documentário recente sobre as diversas formas de contaminação no sistema alimentar e os processos políticos de regulação do mesmo passou na RTP2 na semana passada em horário nobre.
Como gerou muita (merecida) atenção e muitos só o apanharam a meio aqui fica o filme completo.

Para além do "pobrete mas alegrete"

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 Com a explosão de hortas institucionais e voluntárias e uma maior consciência relativa a alguns valores ambientais e culturais associados ao mundo rural e actividades agrícolas é tentador constatar que se reage em parte ao boom consumista dos últimos anos e ao esvaziamento de significado de uma derrapante economia de serviços. Com esta popularidade, reportagens de "interesse humano" repescam um pastor ou um "velhinho com as suas couves" e condescendentemente apontam a sua singeleza ou "poupança por causa da crise".

Um dos resultados disto é que antes de ganhar tracção ou ser capaz de se consolidar esta postura crítica face ao sistema alimentar, à organização desequilibrada de tempo e trabalho e à relação entre a paisagem e o quotidiano, torna-se alvo de uma versão dos preconceitos do novo-riquismo dos anos do boom ou é interpretada como um pacto com uma austeridade que se reveste hoje com a mesma retórica fatalista da "pobreza digna" do Estado Novo.

Há que ultrapassar preconceitos e reconhecer este activismo económico e político específico de hoje, de base rural e/ou local e centrado na qualidade de vida, com a sua própria postura crítica e interventiva.

Album [XIII]: Viveiros

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Gerco de Ruijter,  série "Baumschule"




Truísmos [XIV]

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"For pleasure has no relish unless we share it"

Virginia Woolf

Apontadores [XIV] : Infografias sobre alimentação

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A Good investe muito em trabalho gráfico de boa qualidade, aqui fica uma recolha temática

2 anos de comida consumida por uma pessoa
Bastante próximos da nossa, excepto a ausência de pão e o fraco papel da sopa

"Tribos" da alimentação
Um comentário cómico sobre uma divisão essencialmente intelectual

O efeito multiplicador da agricultura
A importância de um tipo de desenvolvimento agrícola em países com grandes populações rurais

Como e onde desperdiçamos comida?
Qual a proporção entre desperdícios domésticos e os da indústria alimentar?

A dieta do Paleolítico vs dieta Moderna

Uma comparação curiosa entre dois extremos cronológicos e dietéticos

Comida da prisão e comida da cantina da escola

O Estado americano distribui de forma homogénea a sua negligência

16 cts em cada dólar vão para o agricultor. E o resto?
Uma divisão do produto da venda por função

Hortas Comunitárias em Portugal [XX- XXIII] : Iniciativas cívicas

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Alguns projectos não institucionais (e por isso revestidos de um mérito especial)

Hortas das Musas da Fontinha

Génese:
Movimento de cidadãos e de associações, como o grupo Terra Solta, que abordou proprietários de quintais e terrenos devolutos num quarteirão do Porto com uma proposta de limpeza e aproveitamento dos espaços.
Área / Nº de participantes:
11 talhões inicialmente (área desconhecida), actualmente várias áreas dispersas (ver mapa)
Objectivos:
Aproveitamento de espaços verdes no interior de quarteirões, experimentar com horticultura
Ligações:
  Site Oficial , Notícia
Notas:
Na ausência de um programa de hortas comunitárias na cidade do Porto (excepto o da Lipor) este projecto demonstra o grau de curiosidade em torno do tema, com uma ampla participação. Aproveitamento do facto de que muitos quarteirões do Porto têm uma tipologia com um miolo ocupado por longos lotes de terreno, hoje bastante subaproveitados.


Horta Comunitária do Monte Abraão

Génese:
Moradores de uma zona de Queluz aproveitam um baldio que é propriedade da Câmara e que estaria a aguardar um projecto de parque de estacionamento
Área / Nº de participantes:
Área desconhecida, núcleo com cerca de 20 participantes
Objectivos:
Aproveitamento de um terreno baldio no centro da cidade.
Ligações:
  Site Oficial , Notícia
Notas:
Particularidade de aproveitamento de um terreno aberto e destinado à impermeabilização, em que a actividade hortícola pode ter adiado/eliminado (?) o projecto inicial. Seria necessário proceder a análises do solo para determinar riscos decorrentes da localização.


Horta Comunitária da Damaia

Génese:
Aproveitamento de terreno camarário baldio, à semelhança dos casos anteriores.
Área / Nº de participantes:
Área e participantes desconhecidos
Objectivos:
Aproveitamento de um terreno baldio no centro da cidade, prática da horticultura
Ligações:
Notícia 1 , Notícia  2
Notas:
Ao contrário de outros casos, esta iniciativa deu origem a uma disputa com o proprietário (CM da Amadora), que apesar de invocar a poluição do local, só agiu após esta iniciativa de ocupação do terreno, sugerindo depois que os hortelãos se mudassem para um novo projecto com 200 talhões sem data anunciada. Esta situação deu origem a uma petição.


2 Hortas em 2 Dias

Génese:
Aproveitamento de  2 terrenos baldios  no centro histórico do Porto no âmbito da iniciativa de animação sócio-cultural "Manobras no Porto"
Área / Nº de participantes:
Área e participantes desconhecidos
Objectivos:
Chamar a atenção para o aproveitamento espontâneo de espaços verdes, numa zona histórica e turística que necessita de reabilitação paisagística
Ligações:
Anúncio
Notas:
Mais uma iniciativa do Terra Solta que prolonga o tipo de intervenção iniciado pelo primeiro exemplo desta série.

A Horta no Início* do Outono

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* nem por isso, estava a apanhar pimentos na semana passada, em meados de Outubro!  :S

Ohrwurm [I] : No passado Domingo

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Queda e Ascensão do Mercado Municipal [II]

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Mercat de San Josep @noeluap
Se existe então a intenção de apoiar um comércio de proximidade constituído por pequenas ou micro empresas que mudanças podemos procurar que signifiquem maior conveniência e qualidade sem sacrificar os seus aspectos positivos?
Este é o cerne da iniciativa de modernização levada a cabo pelo município de Barcelona em todos os seus mercados, um modelo que é hoje exportado por todo o mundo e que procura combinar os aspectos positivos das grandes superfícies e do comércio tradicional e pode ser sumarizado em alguns pontos:



- Os mercados são espaços assentes sobre zonas pedonais da cidade, que foram reformuladas ao mesmo tempo que o próprio mercado, privilegiando este tipo de comércio de proximidade que não depende de grandes superfícies de estacionamento ou viagens de automóvel
 
- Existe uma marca Mercats de Barcelona comum a todos os mercados mas com ligeiras variações para cada espaço. Os comerciantes aplicam esta marca na sinalética, embalagens e algum vestuário, unificando a rede e reforçando a noção de que a qualidade está distribuída por todos

- Oferecem-se todos os serviços e amenidades de qualquer hipermercado, como wi-fi nos espaços (sempre com zonas de estar dentro do próprio mercado), loja online, entregas ao domicílio mas também educação alimentar, aulas de culinária e formação com assuntos relacionados com saúde e alimentação

- Os clientes são encorajados a provar os produtos, a conhecerem melhor o seu uso e a estabelecerem uma relação de fidelidade com o seu fornecedor, que tende a ter um conhecimento mais aprofundado dos seus produtos específicos

- A entidade gestora coordena não só a manutenção dos espaços e a identidade mas dinamiza-o constantemente, com feiras temáticas, actividades gastronómicas e publicidade global  (ver a activa página FB do grupo). Coordena também a variedade de oferta, para que tenham uma conveniência ao nível de uma grande superfície.

-São retidos muitos aspectos socialmente significativos que são valorizados pelos clientes: os comerciantes são donos do seu próprio espaço por longos períodos; no seu conjunto tratam-se de pequenos distribuidores o que por sua vez os leva a negociar com pequenos produtores, esforçando-se para se diferenciarem dos restantes comerciantes; existe uma relação entre o produto e o vendedor para os clientes, etc.



Que desafios se colocam perante a aplicação deste modelo em Portugal, por exemplo no Porto, em que existem vários Mercados de grande valor arquitectónico e bem localizados embora em variados graus de declínio (Bom Sucesso, Bolhão, Foz, Massarelos)?  São vários e difíceis de resolver: cidades com centros vazios de habitantes, uma baixa área pedonal envolvente, hábitos de consumo acrítico, desvalorização da gastronomia e dependência do automóvel.

Uma vez que todos estes aspectos, embora ainda ubíquos, parecem felizmente dar indícios de algum enfraquecimento será que estamos prontos a dar em breve uma nova oportunidade aos mercados municipais?

Waldenomania [V]

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Queda e Ascensão do Mercado Municipal [I]

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fonte
As chamadas grandes superfícies comerciais oferecem fundamentalmente 3 benefícios aos seus clientes: fácil acesso automóvel; concentração e diversidade de oferta e economias de escala, que lhes permitem fazer alguns descontos importantes. Esta conveniência ditou o seu sucesso, mas também implica fragilidades que facilmente a põem em causa. 

Como é  explicado aqui, a maioria dos hipermercados fica fora de centros urbanos onde não há muitas alternativas ao automóvel, cuja despesa e tempo de viagem envolvidos podem ficar mal na comparação com compras mais frequentes mas integradas no percurso quotidiano habitual, possivelmente nem usando o carro.
Ao mesmo tempo, a diversidade de produtos tem vindo a diminuir tanto nos frescos (onde o que existe de diferente são sobretudo produtos exóticos) como nos processados, com a predominância das marcas brancas que são também praticamente a única estratégia de poupança ainda disponível.

Um sinal destas alterações é o facto de que cada vez mais cadeias de distribuição procuram formatos próximos da "loja de bairro", implantando-se em zonas urbanas com tráfego pedonal em espaços de pequena dimensão. Porém o carácter dos espaços não permite atingir algumas das potencialidades dos mercados institucionais, que é a abertura aos produtores e outros comerciantes em nome próprio e obter um espaço cívico onde concorrem outras funções e formas de interacção para além do abastecimento em alimentos.

Por outro lado os mercados municipais que restam definham pelas mais variadas razões, desde falta de investimento na manutenção do existente ou criação de infraestrutura nova inadequada ou localizada fora de centralidades que permitam integrar os tais percursos quotidianos até ao declínio populacional de muitas áreas urbanas e a perda de mercado para o hábito de combinar shopping & hipermercado na mesma visita.

Existem alguns sinais positivos mas tímidos: nascem alguns movimentos de defesa destes espaços (embora demasiado focado no fundamento arquitectónico); existe alguma mobilização em torno do "compre ao produtor" e "comprar nacional" e vão aparecendo alguns mercados biológicos, que paradoxalmente ilustram bem um preconceito - são inexplicavelmente segregados dos mercados municipais numa localização mais adequada a um status elevado do MPB, na percepção dos promotores.

Não é possível manter o modelo do mercado municipal do passado nem é possível ignorar as potencialidades de um modelo reformulado de comércio tradicional num mundo que é cada vez mais crítico em relação ao que compra e ao modo como o compra.
Vou propôr alguns meios de reformulação dos mercados municipais na segunda parte.

TV Rural [XVI] : "Prato Perene"

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A propósito do novo vídeo do Saber Fazer, divulgo aqui o documentário Perennial Plate, auto-produzido por Daniel Klein e Mirra Fine, que é um dos melhores exemplos do potencial da internet  para a produção de conteúdo educacional. 

No meio da profusão de programas sobre comida, viagens e modos de vida, ultrapassa facilmente muito do que vemos na televisão, trazendo uma visão original sobre jovens agricultores, alimentação local e muitos aspectos invulgares do panorama culinário dos EUA.

Aqui fica um dos primeiros episódios desta série, completamente disponível no Vimeo:


Proposta para incentivo da produção nacional através dos Municípios

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Estive no Sábado no evento "Terra Sã" organizado pela Agrobio e interpelei a representante da Ministra da Agricultura no Seminário dedicado à Segurança Alimentar.
Fiz uma proposta que já enviei, sem resposta, a todos os partidos e organizações relevantes no âmbito da agricultura, que passo a descrever: 
 
"Assistimos a cada vez mais apelos para consumo de produtos nacionais como forma de estimular a agricultura nacional e a economia do país. Ao mesmo tempo muitos produtores de pequena dimensão ou de zonas mais isoladas têm dificuldade em crescer ou escoar os seus produtos, devido
a um conjunto complexo de problemas.


Portugal tem mais de 300 municípios, sendo que cada um deles gere várias cantinas, bares e refeitórios- só no Município do Porto são mais de 40 cantinas.

A maior parte do abastecimento de bens é feito através das Compras Públicas ou da contratação de serviços de "catering" segundo recomendações das entidades contratadoras que são os Municípios.

Proponho que todas as compras públicas da área alimentar dos municípios coloquem sempre em prioridade de acesso ao abastecimento das instituições os produtores locais, regionais e nacionais de produtos agrícolas frescos ou transformados.

Nos concursos para fornecimento de refeições completas uma condição
para o concurso deverá ser a aplicação do mesmo critério para os ingredientes a preparar, sem prejuízo das indicações nutricionais para as ementas (e alguma flexibilidade devido à sazonalidade de muitos ingredientes). A escolha do fornecedor deverá tem em conta não só a sua capacidade de fornecimento como uma discriminação positiva que privilegiando explorações agrícolas locais e de menor dimensão, se necessário distribuindo-as pelas várias instituições. A selecção seria também condicional ao cumprimento de toda a legislação em vigor relativa às condições de higiene, conservação e transporte.

Isto permitiria vários aspectos positivos: acesso a um mercado regular e local por parte de pequenos e médios produtores locais por todo o país; o "Estado a dar o exemplo" nas suas compras públicas e por fim as crianças, funcionários e utentes de serviços sociais teriam a oportunidade de ter maior consciência da sazonalidade e especificidade da sua culinária local, que se reflectiria nos menus."


Nuno Oliveira

Album [XII]: Yeehaw!

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Posters para o Mercado de Produtores de Knoxville, por Yeehaw Design




Hortas Comunitárias em Portugal [XIII -XIX ] : Novas iniciativas de Norte a Sul

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Hortas Sociais da Azambuja

Génese:
Inicialmente com arrendamento espontâneo de terrenos municipais dispersos e sem uso, evolução posterior para programa institucional de hortas sociais.
Área / Nº de participantes:
40 hortas dispersas inicialmente (área desconhecida), 10 lotes de terreno com 200m2 cada um na nova fase
Objectivos:
Apoio ao rendimento mensal das famílias que se candidatam, horticultura de subsistência 
Ligações:
  Notícia 1 (primeira fase), Notícia 2 (segunda fase) 
Notas:
É positiva a existência do hábito de alugar terrenos municipais devolutos para criação de hortas e a resposta pro-activa do município a esta tendência, com a criação "oficial" de novos espaços.

Horta Comunitária de Torre de Moncorvo

Génese:
Afectação de terreno camarário de vocação agrícola
Área / Nº de participantes:
150 talhões de 30-50m2 (10000m2 total)
Objectivos:
Prática de horticultura e jardinagem, aprendizagem e subsistência
Ligações:
Notícia, Anúncio Oficial
Notas:
Trata-se de mais uma afectação do modelo de aproveitamento de áreas agrícolas pertencentes à autarquia, com uma divisão em talhões de pequena dimensão e inclusão de fornecimento de água


Hortas Urbanas de Vila Praia de Âncora

Génese:
Reaproveitamento de parte de terreno em pousio de uma quinta pertencente ao município de Caminha.
Área / Nº de participantes:
20 talhões de 66m2 (1320m2 total)
Objectivos:
Prática de horticultura e jardinagem, formação em compostagem e subsistência
Ligações:
Notícia, Anúncio Oficial
Notas:
Mais uma iniciativa de aproveitamento de áreas agrícolas pertencentes à autarquia, com uma divisão em talhões de pequena dimensão e inclusão de fornecimento de água.

Hortas Sociais de Faro

Génese:
Conversão agrícola de um pequeno terreno no centro histórico da cidade.
Área / Nº de participantes:
8 talhões, área desconhecida
Objectivos:
Prática de horticultura para subsistência, alertar para questões ambientais e formação em compostagem
Ligações:
Notícia, Anúncio Oficial
Notas:
Projecto pela localização numa área do centro da cidade, mas de alcance muito reduzido dada a sua dimensão e objectivos, base demasiado demonstrativa.

Hortas Biológicas de Alfândega da Fé

Génese:
Conversão agrícola de um terreno nas traseiras de um centro escolar por iniciativa camarária
Área / Nº de participantes:
28 talhões de 45m2 (1260m2)
Objectivos:
Prática de horticultura para subsistência, formação em compostagem e horticultura, ocupação tempos livres
Ligações:
Notícia, Anúncio Oficial
Notas:
Iniciativa tem a particularidade de fornecer formação prévia e de incorporar um projecto de horticultura terapêutica para crianças com necessidades especiais.

Hortas Biológicas Urbanas de Póvoa de Santa Iria

Génese:
Reactivação de uma quinta pertencente à autarquia de VF de Xira
Área / Nº de participantes:
40 talhões de 40m2 (1600m2)
Objectivos:
Horticultura para ocupação tempos livres e subsistência, actividades com crianças
Ligações:
Notícia, Anúncio Oficial
Notas:
Mais uma colaboração de um município com a AGROBIO, com a variante de possibilitar a inclusão de uma cadeira de Horticultura na universidade sénior local


Quintal Biológico da Alcaria

Génese:
Aproveitamento de um espaço de quintal em terrenos da JF de Alcaria
Área / Nº de participantes:
? Alguns utentes institucionais e voluntários
Objectivos:
Espaço de lazer com demonstração e prática da horticultura e jardinagem
Ligações:
Notícia, Anúncio Oficial
Notas:
Particularidade de ser iniciativa de um Junta de Freguesia e de ser mais marcado o carácter de lazer e convívio, com a própria JF a encarregar-se da manutenção do espaços.

Horticultura enquanto acto político

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@Boing Boing
A decisão do HDT de habitar de forma espartana uma cabana na floresta  durante dois anos, foi parcialmente política, com o objectivo de transformar o seu estilo de vida num acto de desobediência civil, com a fuga deliberada ao pagamento de impostos que tinham como destino um governo esclavagista, e sendo ao mesmo tempo uma espécie de experiência de redução do quotidiano às suas tarefas mais elementares.

Apesar de actualmente em muitos condados nos mesmos EUA ser ilegal recolher água da chuva; plantar uma horta; ter galinhas; viver numa mini-casa (maior do que os nossos T0) ou mesmo não ter um cartão de crédito, perdendo acesso a entrevistas de emprego ou a contratos de arrendamento, a produção dos próprios alimentos ganha cada vez mais popularidade.

Felizmente em Portugal, onde a horta e o galinheiro de quintal ainda são ubíquos, não existe uma rejeição a este nível, mas subsiste alguma miopia social em relação às hortas de subsistência e outras actividades que permitem viver com muito pouco dinheiro, sem recurso ao endividamento e com baixo consumo de recursos e tempo, muitas vezes confundidas com anacronismos de má memória ou desespero económico, quando não mesmo com vandalismo- parece que a "fuga confortável" ao consumismo através do DIY é um dos poucos actos verdadeiramente subversivos que ainda vingam.


Aproveito então para divulgar um dos tais actos de plantação subversiva, com a criação na baixa do Porto de duas hortas em dois dias (29 e 30 de Setembro), na sequência de sugestões feitas e não concretizadas num concelho onde o único programa de hortas urbanas tem mais de 1000 pessoas em lista de espera.

23 de Setembro

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"Outono" Archimboldo

Hortas Comunitárias em Portugal [XII] : Hortas Sociais de Póvoa de Lanhoso

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Génese:
Iniciativa da Acção Social da CM de Póvoa de Lanhoso, colaboração futura com IPSS locais para cedência de terrenos e formação no âmbito da agricultura biológica.

Área / Nº de participantes:
 Área desconhecida, 19 utentes na experiência piloto.

Objectivos:
Complementar o orçamento de famílias desfavorecidas com produção própria de hortícolas, complemento do abastecimento de IPSS, aquisição de conhecimentos de agricultura biológica para subsistência

Ligações:

Notícia 1, Notícia 2

Notas:

Esta iniciativa de promoção de horticultura biológica, orientada para questões de cariz social de forma a complementar o rendimento familiar, segue o modelo de aproveitamento de espaços sub-aproveitados no espaço das próprias instituições promotoras. Terá o mesmo problema de outras iniciativas semelhantes, em que apesar do potencial o espaço disponível não permite um programa abrangente na população carenciada ou que exista um impacto significativo no orçamento dos utilizadores.

Roídas 1 em cada 3 Cenouras :((( EDITADO

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.Este post antigo tem recebido algumas visitas, isto foi muito antes de saber que as toupeiras são quase exclusivamente carnívoras e que os estragos nas plantas se devem ao facto de que ratos utilizam os seus túneis - eles sim - para comer as raízes.

Todos os animais fazem parte da biodiversidade de uma horta saudável mas as toupeiras são consideradas um animal "neurtro" na sua acção porque por um lado comem algumas pragas e ventilam solos compactados mas por outro também preferem as essenciais minhocas e podem secar as raízes quando fazem demasiados túneis. Sou totalmente contra matar toupeiras mas procuro desencorajá-las, destruindo túneis novos ou enterrando plantas com cheiro forte como louro ou alho nos pontos de saída.



Album [XI]: Recessão

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Reportagem da Associated Press sobre a crise nos EUA desde 2008.

 " Kate Cramer-Herbst cleans out a vegetable box in Detroit, April 10, 2010. Detroit, which revolutionized manufacturing with its auto assembly lines, could once again be a model for the world as residents transform vacant, often-blighted land into a source of fresh food. No city seems to have as much potential for urban farming as Detroit, where land is cheap, empty lots are plentiful, and residents are desperate for jobs. (AP Photo/Carlos Osorio)"



"In this photo taken Thursday April 22, 2010, Bonnie the cow is milked by Erik Ramfjord, at the Douglas Ranch in Paicines, Calif., Ramfjord is a member of World Wide Opportunities on Organic Farms, a group with 9,000 members commonly known by a variation of their acronym, woofers. It's kind of an Outward Bound for agriculture, the new millennium version of the traveling hobo willing to work for a meal. (AP Photo/Tracie Cone)"

"Shelves are stocked at the Chittenden Emergency Food Shelf in Burlington, Vt., Wednesday, Nov. 25, 2009. Around Vermont, demand is up at food shelves as Vermonters lose jobs, try to make ends meet on unemployment and struggle with heating, food and fuel costs. Many charities say they have been able to meet the demand with donations from food drives at businesses, church groups and schools, but wonder if they'll raise enough during the upcoming holiday season. (AP Photo/Toby Talbot)"


"In this Jan. 28, 2009, file photo after an overnight snowfall, Neil Floyd starts a fire to keep warm outside his tent in the small tent city, where he lives with other homeless people in Camden, N.J. More than 37 million Americans live in poverty, and the vast majority of them are in line for extra help under the giant economic stimulus package coming out of Congress. (AP Photo/Mel Evans, file)"

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TV Rural [XV] : "Jardins pela Vitória"

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Na sequência deste post aqui fica o anúncio original dos Victory Gardens dos anos 40-50 nos EUA, uma campanha pela produção doméstica de carne, ovos, fruta e hortícolas para subsistência com o objectivo de ajudar o esforço militar e combater a pobreza e escassez de bens essenciais na sociedade civil (surgiu na sequência da Grande Depressão).




Hoje precisamos de uma versão deste modelo a ser encorajada da mesma forma, uma vez que a continuidade de uma recessão é clara no médio prazo e os bens alimentares encarecem continuamente, sendo importante reduzir algumas importações de forma significativa, uma vez que se espera fortalecer a economia pela via do equilíbrio da balança comercial. Deveria existir também uma "guerra" em curso contra a obesidade, sedentarismo e doenças cardio-vasculares.

Apontadores [XIII] : Produzir, vender e comprar com ética

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Produtores agrícolas acusam grande distribuição
Distribuidores de fruta ficam com uma margem de lucro de 50% a 200. Há que saber vender e escoar os produtos de outra forma, e ganhar mais poder negocial. A grande distribuição oferece concentração de escolha e conveniência de acesso. Produtores unidos podem oferecer o mesmo, nos seus termos.

Continente e Pingo Doce entre os dez maiores importadores
Números para as compras nacionais são exagerados, uma vez que a experiência diz que a fruta e legumes portugueses estão em média abaixo dos 50%, a origem das marcas brancas não aparece na embalagem e contabilizam os processados em Portugal como "produção 100% nacional".

Empresário rompeu com os hipermercados e não se está a dar mal
Um pequeno produtor abandonou distribuidores e armazenistas e vende fruta pela internet, o sucesso da comercialização directa em pequena escala tem o potencial de mudar todas as regras do mercado actual.

Produtores de Mora vendem mais barato em mercado livre de intermediários
Os mercados municipais são a base fundamental para apoio aos micro-produtores e o meio de acesso ao comércio local e de proximidade. Mas são um modelo que tem que ser capaz de se reformular.

Preço do melão triplica entre o produtor e os hipermercados 
As importações de países que fornecem mais barato (por vários motivos) é usada como arma para atirar compra aos produtores nacionais para valores próximos do custo de produção mas produtores precisam de se unir para ganhar peso negocial e autonomia.

Como a grande distribuição pressiona os seus fornecedores
Um rol das principais estratégias de que grandes distribuidores utilizam na negociação de preços e contratos com os produtores.

Bom, parte da colheita de tomate não aproveitada por mau planeamento

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"Nem saúde Nem sustento"

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O título é deste amigo.



Um trabalho, mesmo um que é realizado por vocação, deveria permitir uma subsistência, ou seja, ser capaz de cobrir despesas com um lar, alimentação, energia, água, roupa e meios de deslocação. Também deveria garantir, para fazer sentido, alguma poupança, para investir num projecto pessoal ou começar uma família.
Por fim, deveria oferecer autonomia e algum tempo para a viver.

Quando o trabalho não dá a autonomia nem tempo e quando não permite pôr de lado o suficiente para investir num futuro, desaparece qualquer sentido de finalidade. Quando de forma mais grave obriga a escolher entre comer ou aquecer a casa, entre pagar renda ou uma deslocação necessária e a própria subsistência é posta em causa, sente-se com grande intensidade confusão e a decepção.

Quando apesar de se ter um trabalho se deixa de ter acesso a estas coisas surgem questões em relação ao sentido sequer faz aquilo que é fundamentalmente o estilo de vida da quase globalidade da sociedade onde crescemos e aquilo para que fomos educados toda a vida. Parecem não existir alternativas realistas ao fracasso ou à sub-existência neste esquema. Se o trabalho então nem sequer existe, o sentido de futilidade e fracasso é total.

Trabalhamos durante toda a vida para comprar um futuro, qualidade de vida e subsistência, mas acabamos  muitas vezes por perde-los por vários motivos no final ou durante este percurso.
Se tivermos ao nosso alcance os meios para trabalharmos directamente para a nossa subsistência, futuro, e tempo para o viver provavelmente estamos a abdicar da poderosa promessa de liberdade das preocupações mundanas que nos é prometida com um contrato de trabalho a tempo indeterminado, um crédito à habitação, um seguro, dinheiro na conta e um plano de reforma.

Mas alguma vez a tivemos realmente ao nosso alcance?

Truísmos [XIII]

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“Venari, lavari, luderi, rideri, hoc est vivere”

“Caçar, banhar, divertir-se, rir, isso é viver" - inscrição no fórum romano de Timgad

A fartura de Agosto dá uma preguiça para fazer posts...

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Ver, Saber, Fazer

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Admito que em relação ao conhecimento das artes rurais tradicionais o meu interesse pessoal surge menos da importância patrimonial e etnográfica do que da admiração em relação à capacidade pessoal de produzir de raiz.

Por este motivo invejo menos quem Sabe Fazer pelo facto de ser ter tornado, pela passagem do tempo, numa veneranda personagem do museu vivo da nossa cultura, do que pelo facto de que quem consegue criar com as mãos objectos essenciais para o quotidiano é dono/a de um poder pessoal que imuniza face a técnicas de massificação que supostamente tornam obsoleto tal conhecimento.

Um destes casos é a produção do Linho, que testemunhei em pleno Minho, com ajuda do Grupo Folclórico da Corredoura, que permitem que se faça mais do que assistir e se possa (com a minha gratidão) durante algumas horas participar na colheita desta herbácea.
Esta visita coincidiu oportunamente com uma altura em que me apercebi que foram outrora importantes para o sucesso de muitas comunidades agrícolas não só as boas colheitas de cereais e forragem como a produção de plantas têxteis, sobretudo o Linho mas também o Canhâmo.

Testemunhar isto é um dos motivos pelos quais tenho a sorte de por vezes acompanhar a Alice nas muitas recolhas que já fez da produção de objectos com as mãos, esperando ansiosamente pelas muitas outras que decorrem ou que estão agendadas.

"O Linhal" no Saber Fazer

Waldenomania [IV]

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Erguer-me-ei e partirei já, e partirei para Innisfree,
E uma pequena cabana içarei lá, de barro e vime feita:
Nove alas de feijão aí terei, uma colmeia de obreiras e
Viverei sozinho entre enxames nas clareiras.

E aí terei uma certa paz, porque a paz vem lentamente,
Caindo pelo véu da manhã, até onde o grilo canta;
Onde a meia-noite é trémula, e o meio-dia é roxo brilho,
E a noite, de asas de pardais se completa.

Erguer-me-ei e partirei já, porque sempre noite e dia
Escuto a água do lago folheando murmúrios na rebentação;
Quanto vou pelas estradas ou pelos passeios cinza,
Oiço-a no lúmen profundo do coração.

"A Ilha do Lago de Innisfree" de W.B. Yeats

Album [X]: Stephan Zirwes

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O inevitável post com vistas aéreas de paisagens agrícolas