Queda e Ascensão do Mercado Municipal [I]

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As chamadas grandes superfícies comerciais oferecem fundamentalmente 3 benefícios aos seus clientes: fácil acesso automóvel; concentração e diversidade de oferta e economias de escala, que lhes permitem fazer alguns descontos importantes. Esta conveniência ditou o seu sucesso, mas também implica fragilidades que facilmente a põem em causa. 

Como é  explicado aqui, a maioria dos hipermercados fica fora de centros urbanos onde não há muitas alternativas ao automóvel, cuja despesa e tempo de viagem envolvidos podem ficar mal na comparação com compras mais frequentes mas integradas no percurso quotidiano habitual, possivelmente nem usando o carro.
Ao mesmo tempo, a diversidade de produtos tem vindo a diminuir tanto nos frescos (onde o que existe de diferente são sobretudo produtos exóticos) como nos processados, com a predominância das marcas brancas que são também praticamente a única estratégia de poupança ainda disponível.

Um sinal destas alterações é o facto de que cada vez mais cadeias de distribuição procuram formatos próximos da "loja de bairro", implantando-se em zonas urbanas com tráfego pedonal em espaços de pequena dimensão. Porém o carácter dos espaços não permite atingir algumas das potencialidades dos mercados institucionais, que é a abertura aos produtores e outros comerciantes em nome próprio e obter um espaço cívico onde concorrem outras funções e formas de interacção para além do abastecimento em alimentos.

Por outro lado os mercados municipais que restam definham pelas mais variadas razões, desde falta de investimento na manutenção do existente ou criação de infraestrutura nova inadequada ou localizada fora de centralidades que permitam integrar os tais percursos quotidianos até ao declínio populacional de muitas áreas urbanas e a perda de mercado para o hábito de combinar shopping & hipermercado na mesma visita.

Existem alguns sinais positivos mas tímidos: nascem alguns movimentos de defesa destes espaços (embora demasiado focado no fundamento arquitectónico); existe alguma mobilização em torno do "compre ao produtor" e "comprar nacional" e vão aparecendo alguns mercados biológicos, que paradoxalmente ilustram bem um preconceito - são inexplicavelmente segregados dos mercados municipais numa localização mais adequada a um status elevado do MPB, na percepção dos promotores.

Não é possível manter o modelo do mercado municipal do passado nem é possível ignorar as potencialidades de um modelo reformulado de comércio tradicional num mundo que é cada vez mais crítico em relação ao que compra e ao modo como o compra.
Vou propôr alguns meios de reformulação dos mercados municipais na segunda parte.

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