Denso ou intensivo?
Como estou responsável por uma pequena quinta que está, segundo o modelo de implementação habitual, no limiar ou abaixo da rentabilidade que o viabiliza, vejo-me impelido por profissionais da área a apostar em apenas num produto do modo mais intensivo e especializado possível, ocupando absolutamente toda a área disponível. Por outro lado gostaria de produzir intensivamente mas de uma forma que incluísse vários produtos que se complementam em termos de uso do solo, integrando melhor produção animal e vegetal por exemplo.
Não se trata apenas de pôr todos os ovos no mesmo cesto face ao risco de perder a produção toda por causa de uma semana chuvosa que coincida com a colheita por exemplo, mas de diversificar também o tipo de serviços e produtos que podem ser oferecidos. Com a variedade poderia diversificar também a clientela para além dos entrepostos e dirigindo-me ao mesmo tempo para o comércio local, algo que tenho vindo a ser absolutamente desaconselhado a fazer mas que sinto que posso experimentar gradualmente nesta fase inicial, especialmente estando dentro de uma área urbana, próxima de um mercado potencial.
A Sunny Creek (na foto) é uma produtora biológica australiana de frutos silvestres, castanha e maçã que produz na seca planície a norte de Melbourne com um sistema agro-florestal que integra os vários frutos, pensado para lidar com o clima e escassez de água, criando um oásis que é também economicamente próspero pela valorização que os seus clientes fazem deste modo de produção. Produzem com médias por hectare bem menores que os melhores casos de estudo tecnológicos destas culturas mas investiram também muito menos para obter o que têm - no fundo o saldo económico é semelhante mas o saldo ambiental e social é muito melhor. O que exigiu foi mais tempo e conhecimento, e uma relação mais elaborada e próxima com o cliente final.
Aqui não vejo muitas contradições, só inspiração.
28.5.13
Album [XXI]
Não faço a mínima ideia do conteúdo mas gosto muito das capas da extinta Country Gentlemen, que tem uma espécie de sucessor na recém-lançada Modern Farmer, para divergir estilisticamente da velhinha e imutável Mother Earth News. Acho positiva esta mudança de imagem pública da agricultura, que me faz sentir que não estou candidato à proscrição social, mas por outro lado já falei ás vezes de todo este entusiasmo aqui.
A minha revista preferida em Portugal é previsivelmente a Segredo da Terra, que tem um excelente editor em conteúdos mas perde em desdenhar o design (nem é por uma questão de "aspecto" mas da mais básica funcionalidade) e que podia ter uma presença online mais forte, inclusive com números antigos.
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Concurso de Cães Pastores no Freixo do Meio |
Não há grande oportunidade para passar em todas as actividades excelentes na área do ambiente e agricultura que têm vindo a aumentar e a melhorar em qualidade por todo o país.
Este ano fui pela primeira vez ajudar e participar no incontornável Encontro de Primavera, uma experiência inesquecível e absolutamente imperdível para crianças e pais com braços doridos de tantos puxões em direcção ás muitas actividades.
Não sei se consigo ir a todos ou mesmo a algum destes outros famosos eventos de Verão nos quais gostaria de me estrear mas marquei-os na agenda na mesma e pelo menos ficam aqui como sugestão e pretexto para conhecer melhor algumas regiões do interior:
Festival Salva a Terra - Festival de música e ambiente em Idanha-a-Nova, de 7 a 10 de Junho
Burro I L Gaiteiro - Cultura Tradicional e o Burro Mirandês em Miranda do Douro, de 25 a 29 de Julho
Bons Sons - Festival de música portuguesa na aldeia de Cem Soldos, sem edição em 2013?
Andanças - Festa da Música e Dança Popular, este ano mudou para Castelo de Vide, 19 a 25 de Agosto
Cine'Eco - O Festival de cinema ambiental que acontece em Seia, de 19 a 26 de Outubro
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A Rita Tomás partilhou também nos comentários ao post anterior um interessante ciclo organizado pelo Teatro Maria Matos , por onde já passou o Anselm Jappe, que deixou esta interessante entrevista no Público, e onde ainda vão falar Tim Jackson a 24 de Junho (que tem esta intervenção no TED) e Viriato Soromenho Marques (que tem crónicas no DN), que é importante escutar no dia 16 de Julho. Fica esta citação do Tim Jackson:
"The story of current social values is the story of us, people, being persuaded to spend money we don't have on things we don't need to create impressions that won't last on people we don't care about. (...)This is the basis of our growth-dependent society, even after hitting the wall in 2008.(...) This tragically creates an absence of purpose for people as well as an impossible standard for economies."
Actualização: O Festival Bons Sons só se realiza em anos pares, ou seja a próxima edição é em 2014
Actualização: O Festival Bons Sons só se realiza em anos pares, ou seja a próxima edição é em 2014
23.5.13
Apontadores [XXI]: Autóctone
Alguns apontadores sobre produtos, raças de animais e variedades de plantas de Portugal
Mapa dos DOP/IGP
Uma lista completa de todos os produtos alimentares com origem e/ou método de fabrico protegido. Não é só o que podíamos exportar e consumir mais, é um património. Aqui em lista por extenso, e aqui só as frutas.
Programa para a Promoção dos Ofícios e das Microempresas Artesanais
O programa de apoio à complentariedade de actividade agrícola com actividades artesanais da DGADR. Boas intenções mas os moldes são ainda tímidos para o potencial que por enquanto ainda vai existindo.
Ruralbit - Fotografias de Raças Autóctones
Uma base de dados informal mas com todas as raças e com alguma informação básica sobre cada uma. Cada raça tem uma associação própria que em parceria com o Governo ajuda a definir os padrões.
Federação Nacional das Raças Autóctones
Uma lista de todas as associações encarregadas de proteger o património genético e que prestam alguns serviços de consultoria e contactos de criadores para os interessados
Apoios complementares aos criadores de raças autóctones
Nas raças elegíveis não faz qualquer sentido que esteja destacada a raça bravia (usada nas touradas) e depois não apareçam raças que estão associadas a produtos IGP como a Cachena. Um absurdo.
Flora de Portugal
O portal Flora-on é um tesouro de referência rápida, fico sempre impressionado com as variedades silvestres que não imaginava que existiam
Plantas Invasoras de Portugal
O reverso também é importante conhecer, como esta lista das plantas invasoras no país, com uma descrição sintética. Também não imaginava que algumas destas fossem invasoras.
Banco Português de Germoplasma
Um património vivo único no mundo que é mantido em Braga tem uma história de luta contra a extinção que dava um filme. O maior banco de germoplasma da Península e contribuidor para os congéneres mundiais merecia mais do que nunca o mesmo reconhecimento e cuidado que se dá às reservas de ouro em Lisboa.
Mapa Etno-Musical de Portugal
Muito interessante este mapa interactivo, que inclui alguma da música tradicional da lavoura (com recolhas de M. Giacometti). Por bairrismo e não só gosto da muralha sonora do Canto Polifónico Minhoto, alguém ponha estas mulheres a desafiar os homens da variante Alentejana.
22.5.13
Ser e Ter
Ilustração do Nuno Saraiva |
Ser e ter são os verbos mais usados e os primeiros que aprendemos a conjugar. Apesar de o "ter" ser gramaticamente mais importante noutras línguas para conjugar outros verbos, a sua presença, inclusive no português, serve para enquadrar quão importante é o sentido de posse na nossa concepção do mundo. "Possuo esta casa, aquela pessoa é minha e eu sou dela, pertenço a aquele lugar."
Libertado da tentadora e confortável opressão da propriedade, não possuo esta quinta pela qual estou responsável. Estava antes muito relutante em abdicar do controlo e acomodação que pensamos que temos quando ao mesmo tempo pensamos que possuímos.
Não a possuo, por isso errar tem outro peso, sobretudo financeiramente. Mas ao mesmo tempo, porque não a possuo é provável que mesmo que alguma medida de sucesso chegue eu tenha um dia que a abandonar e começar algo novo. No fundo a escolha resumiu-se a confiar mais neste parceiro que confiou em mim (uma institituição social) do que num banco. Parece uma escolha natural.
É uma lição extremamente difícil de aprender, o reconhecimento da natureza transitória das coisas e da noção de que a nossa posse é sempre ténue. Não associarmos o que somos ao que temos e nunca tomar por garantido aquilo que pensamos que possuímos é a maior protecção que podemos ter face às coisas que inexoravelmente mudam .
Mas não faz mal, depois desta lição é impossível voltarmos a perder o que quer que seja.
(Não está relacionado mas o título do post é emprestado de um dos melhores documentários que já vi)
8.5.13
Aprender, fazendo
"As crianças são animais de criação extensiva e devem ser deixadas a pastar nos canteiros de morangos no Verão" John Seymour
Nunca entendi porque é que no nosso Ensino Básico transmitimos às crianças muito do conhecimento acumulado pela Humanidade durante milhares de anos como a Língua, Matemática e Ciência e não estendemos o currículo a todas as ferramentas elementares para a compreensão do mundo físico, como a Agricultura, e o conhecimento prático do mundo natural envolvente através da Biologia aplicada.
Este papel terciário ou inexistente na formação clássica, faz depois que certas actividades sejam alvo de alguma diminuição social e cultural, apesar da sua óbvia importância no quotidiano.
O caso mais visível é o da produção de alimentos, mas estende-se a todas as actividades, desde produzir utensílios, vestuário, culinária ou mesmo à construção propriamente dita, basicamente conhecimentos também resultantes da evolução da civilização. Pior ainda, a sua presença nos currículos do saudosismo ruralista e patriarcal da ditadura manchou para várias gerações a presença destas actividades no ensino.
Fico no entanto curioso com métodos de educação que incluem alguns destes aspectos ou transferem a sala de aula para um contexto exterior e exclusivamente prático, mas não deixo de pensar que as ATLs semi-obrigatórias que agora existem podiam ser passadas (pelo menos parcialmente) com as crianças a aprenderem mais sobre os animais, fenómenos e objectos que os rodeiam.
É fundamental para o seu desenvolvimento e auto-confiança desenvolverem aptidões das quais retirem uma utilidade prática e imediata fora do abrigo de uma sala de aula ou da supervisão constante.
Gostava de um dia integrar na quinta uma forma de educação (em regime de ATL, AEC ou outro) que seja alternativa ou complemento à educação básica das crianças da cidade onde resido.
Não garantia é que voltassem com a roupa limpa a casa.
Nunca entendi porque é que no nosso Ensino Básico transmitimos às crianças muito do conhecimento acumulado pela Humanidade durante milhares de anos como a Língua, Matemática e Ciência e não estendemos o currículo a todas as ferramentas elementares para a compreensão do mundo físico, como a Agricultura, e o conhecimento prático do mundo natural envolvente através da Biologia aplicada.
Este papel terciário ou inexistente na formação clássica, faz depois que certas actividades sejam alvo de alguma diminuição social e cultural, apesar da sua óbvia importância no quotidiano.
O caso mais visível é o da produção de alimentos, mas estende-se a todas as actividades, desde produzir utensílios, vestuário, culinária ou mesmo à construção propriamente dita, basicamente conhecimentos também resultantes da evolução da civilização. Pior ainda, a sua presença nos currículos do saudosismo ruralista e patriarcal da ditadura manchou para várias gerações a presença destas actividades no ensino.
Fico no entanto curioso com métodos de educação que incluem alguns destes aspectos ou transferem a sala de aula para um contexto exterior e exclusivamente prático, mas não deixo de pensar que as ATLs semi-obrigatórias que agora existem podiam ser passadas (pelo menos parcialmente) com as crianças a aprenderem mais sobre os animais, fenómenos e objectos que os rodeiam.
É fundamental para o seu desenvolvimento e auto-confiança desenvolverem aptidões das quais retirem uma utilidade prática e imediata fora do abrigo de uma sala de aula ou da supervisão constante.
Gostava de um dia integrar na quinta uma forma de educação (em regime de ATL, AEC ou outro) que seja alternativa ou complemento à educação básica das crianças da cidade onde resido.
Não garantia é que voltassem com a roupa limpa a casa.
3.5.13
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