No fim da Era Glaciar grande parte da Europa terá estado sob um denso manto florestal com predominância de espécies de folha caduca, do Noroeste da Península Ibérica até às estepes na actual Rússia na transformação da floresta Boreal que a antecedeu e que subsiste a outras latitudes. Da ocupação humana no Neolítico e ocupação de clareiras artificiais, chegou-se ao confronto com a civilização romana, que começou a desbravar esta massa inescrutável, que abrigava inúmeras criaturas e povos irredutíveis, com agricultura e estradas onde antes sobretudo se caçava e se praticavam sistema agro-florestais e onde se faziam as deslocações pela via fluvial de um modo provavelmente evocativo de uma descida do Amazonas nas zonas mais remotas.
Esta continuidade monumental terá tido um impacto tão grande que cresceu ao longo do tempo na imaginação e na mitologia europeia, permeando a história oral com a sua imagem monumental e aterradora e assim nascem as sobrenaturais
Myrkviðr e
Brocelândias dos mitos, na sequência da monumentalização da temida e extensa
Hercynia dos romanos, um dos obstáculos maiores à expansão romana na Europa Central e
última morada de legiões inteiras. Inúmeros contos e fábulas reforçam esta imagem da floresta, que entra na infância de numerosas gerações até hoje e que prolonga até à idade adulta parte do seu fascínio.
Hoje a ocupação florestal arcaica sobreviverá de forma contínua há milhares de anos somente em inúmeros pequenos retalhos, devendo-se sobretudo à protecção da caça feita por elites políticas e económicas ao longo da história, das quais alguns exemplos notáveis são a
Floresta das Ardenas, a
Silva Carbonaria e com a mais conhecida e extensa
Białowieża, última morada do
Bisonte Europeu e do
Auroque e preservada mais recentemente pela Guerra Fria.
Em Portugal a presença humana cedo tratou de eliminar muita da floresta com a transumância do gado e agricultura de
abatidas-queimadas. O golpe de misericórdia é dado pelos Descobrimentos, cuja avidez de construção naval, contribuiu para acabar com a presença do
urso no nosso território. Hoje a floresta recupera em área ocupada, fruto de regeneração natural ou exploração comercial, com uma morfologia e constituição muito diferentes.
Todavia, a nossa admiração subsiste no estatuto de celebridade da secular Mata de Albergaria (na foto), repositório de uma
ideia de floresta selvagem, indiferente à humanidade, apesar de lhe ser intrínseca.