Waldenomania [IV]

0 comentários
Erguer-me-ei e partirei já, e partirei para Innisfree,
E uma pequena cabana içarei lá, de barro e vime feita:
Nove alas de feijão aí terei, uma colmeia de obreiras e
Viverei sozinho entre enxames nas clareiras.

E aí terei uma certa paz, porque a paz vem lentamente,
Caindo pelo véu da manhã, até onde o grilo canta;
Onde a meia-noite é trémula, e o meio-dia é roxo brilho,
E a noite, de asas de pardais se completa.

Erguer-me-ei e partirei já, porque sempre noite e dia
Escuto a água do lago folheando murmúrios na rebentação;
Quanto vou pelas estradas ou pelos passeios cinza,
Oiço-a no lúmen profundo do coração.

"A Ilha do Lago de Innisfree" de W.B. Yeats

Album [X]: Stephan Zirwes

0 comentários
O inevitável post com vistas aéreas de paisagens agrícolas







Uma ideia de Floresta

0 comentários
@alicebernardo

No fim da Era Glaciar grande parte da Europa terá estado sob um denso manto florestal com predominância de espécies de folha caduca, do Noroeste da Península Ibérica até às estepes na actual Rússia na transformação da floresta Boreal que a antecedeu e que subsiste a outras latitudes. Da ocupação humana no Neolítico e ocupação de  clareiras artificiais,  chegou-se ao confronto com a civilização romana, que começou a desbravar esta massa inescrutável, que abrigava inúmeras criaturas e povos irredutíveis, com agricultura e estradas onde antes sobretudo se caçava e se praticavam sistema agro-florestais e onde se faziam as deslocações pela via fluvial de um modo provavelmente evocativo de uma descida do Amazonas nas zonas mais remotas.

Esta continuidade monumental terá tido um impacto tão grande que cresceu ao longo do tempo na imaginação e na mitologia europeia, permeando a história oral com a sua imagem monumental e aterradora e assim nascem as sobrenaturais Myrkviðr e Brocelândias dos mitos, na sequência da monumentalização da temida e extensa Hercynia dos romanos, um dos obstáculos maiores à expansão romana na Europa Central e última morada de legiões inteiras. Inúmeros contos e fábulas reforçam esta imagem da floresta, que entra na infância de numerosas gerações até hoje e que prolonga até à idade adulta parte do seu fascínio.

Hoje a ocupação florestal arcaica sobreviverá de forma contínua há milhares de anos somente em inúmeros pequenos retalhos, devendo-se sobretudo à protecção da caça feita por elites políticas e económicas ao longo da história, das quais alguns exemplos notáveis são a Floresta das Ardenas, a Silva Carbonaria e com a mais conhecida e extensa Białowieża, última morada do Bisonte Europeu e do Auroque e preservada mais recentemente pela Guerra Fria.

Em Portugal a presença humana cedo tratou de eliminar muita da floresta com a transumância do gado e agricultura de abatidas-queimadas. O golpe de misericórdia é dado pelos Descobrimentos, cuja avidez de construção naval, contribuiu para acabar com a presença do urso no nosso território. Hoje a floresta recupera em área ocupada, fruto de regeneração natural ou exploração comercial, com uma morfologia e constituição muito diferentes.
 Todavia, a nossa admiração subsiste no estatuto de celebridade da secular Mata de Albergaria (na foto), repositório de uma ideia de floresta selvagem, indiferente à humanidade, apesar de lhe ser intrínseca.

Apontadores [XII] : Baaaaaah

0 comentários


Depois do pobreiro, uma nova série sobre as suas sócias

Associação de Raça Churra Galega Mirandesa propõe parceria com criadores de bovinos
"Os nossos criadores estão numa idade já avançada e isso leva a que desistam. É pena que a juventude não queira pegar nisto" afirma, salientando que "isto bem trabalhado em bem trabalhado e bem organizado" pode resultar. As raças autóctones dependem da sua viabilidade comercial.

A criação de gado pode ser alternativa ao desemprego 
A raça é DOP mas a carne ainda não é comercializada com este selo de garantia, no entanto trata-se de “um produto de muita qualidade que é imbatível”.O emparcelamento faz falta à criação de gado e podia contribuir para o aumento da produção. Tem também que se pensar na carne de cabrito para além das ocasiões especiais.

Goat meat, the final frontier
O que ainda é o tipo de carne mais consumido em todo o mundo é o único que vem de um animal que resiste a maus pastos e condições, come tudo o que os outros rejeitam e evita a água minimizando a contaminação. Por vários motivos é o futuro para o consumo de carne parcimonioso, baseado na qualidade e na sustentabilidade.

Emigrantes fazem do queijo um negócio no regresso à terra
Um casal de emigrantes de Bragança regressou e criou um negócio familiar que começou com um pequeno rebanho e tem hoje no queijo tradicional uma fonte de rendimento. Fazem a ressalva importante de que o seu sucesso se deve ao facto de não estarem dependentes de apoios que tardam ou créditos a condições difíceis mas das poupanças que fizeram na emigração.

Los cabreros de Málaga venderán su leche directamente al consumidor
Uma associação de produtores une-se e expande-se para fazer frente aos termos de negociação propostos pelas grandes superfícies. Escolheram assim lutar em duas frentes de um modo eficiente: oferecer preços mais baixos e mais justos para si na venda directa ao público e ganhando maior poder negocial com os grandes compradores.

Goats are Delicious and Good for the Wallet
Um artigo/slideshow sobre bastante nova literatura que procura encorajar mais pessoas a terem cabras para fins comerciais e de subsistência, chamando a atenção para os benefícios ambientais, dietéticos e económicos que a espécie pode providenciar.

Growing Goat Herds Signal Global Grassland Decline
O reverso da medalha das vantagens do uso da cabra na alimentação e economia rural, que a tornam o animal mais popular por todo o mundo, é que combinada com a sobrepopulação e falta de instrumentos de gestão do território o impacto do pasto em grande escala é catastrófico.

Aposta na qualidade
Uma micro-reportagem sobre um produtor pecuário (caprinos e ovinos) que termina com a constatação do que devia ser o axioma básico de toda a estratégia agrícola do país: "não podermos concorrer em quantidade com outros países, podemos fazê-lo em qualidade".

Truísmos [XII]

1 comentários
What should young people do with their lives today? Many things, obviously. But the most daring thing is to create stable communities in which the terrible disease of loneliness can be cured.
Kurt Vonnegut via

TV Rural [XIV] : O meu Walden fica perto de um comboio

0 comentários

Waldenomania [III]

0 comentários

À esquerda está a nova edição portuguesa de "Walking" (a sério) e à direita está uma proposta de capa para o "Walden" do designer JezBurrows. Gostava que o HDT tivesse uma editora portuguesa ao nível do conteúdo que oferece...

Nerdgasm na Cozinha Sustentável

0 comentários
Sou frequentemente o encarregado da cozinha cá por casa e posso dizer que é uma actividade que faço cheio de gosto e boa-vontade, só para não me demorar muito na descrição dos resultados.
Cozinhar frequentemente evidenciou a forma como isso afecta tanto a sustentabilidade como a economia doméstica: mais de 30% da comida é deitada fora; a maior parte da energia final de uma refeição foi usada na sua compra, refrigeração e confecção; 40% de todos os resíduos domésticos são compostáveis e, falando por nós, a alimentação feita em casa é a base da poupança possível, mesmo assim ocupando mais de 30% do nosso orçamento total. E tudo isto sem sequer ter em conta as opções que se fazem em termos de compras, que são outro universo.

Com esta maior consciência do impacto da cozinha tenho prestado mais atenção a meios de reduzir os desperdícios e o uso de recursos, ao mesmo tempo que procuro soluções menos convencionais, como nestes exemplos:

Esquerda: Field Kitchen da Kanz Outdoors Direita:  Are You Wheel? de Christoph Thetard






À esquerda está o sonho molhado dos campistas xoninhas e comodistas como eu, com tudo embutido numa mala que faz uma bem portuguesa e azeiteira paragem à beira da estrada para Arroz de Frango parecer um evento gourmet. Gosto da portabilidade para estadias de mais de um fim-de-semana.
À direita está o item número 1 para a minha lista de Natal: uma ciclo-cozinha que consiste num móvel com roda e pedais que põem a trabalhar um conjunto de electrohumanodomésticos já familiares.
A bicicleta já é a melhor invenção de sempre porque consiste numa simbiose eficiente entre homem e máquina, assim até puré faz! Simplesmente imbatível.
Aqui em baixo estão mais dois objectos de que não prescindiria se tivesse acesso a um jardim.



À esquerda está basicamente uma pia de cozinha amovível, que permite levar a água que se gastou (mas não contaminou) para o compostor, evitando perdas.
O segundo é um espectacular fogão a lenha  (montes de vídeos de americanos assustadores sobre ele), que ganhou um concurso para uma solução económica e ultra-eficiente, que permitisse rapidamente ferver a água e cozinhar com o mínimo de combustível. É agora enviado aos milhares para zonas que sofrem com desflorestação intensa devido ao uso de biomassa para quase tudo.

A par da minha solução predilecta de saneamento, parecem itens interessantes para um pequeno poiso "fora da rede", que use um mínimo de recursos sem recorrer à frugalidade de um buraco no chão e uma fogueira (desculpa HDT).