Como estou responsável por uma pequena quinta que está, segundo o modelo de implementação habitual, no limiar ou abaixo da rentabilidade que o viabiliza, vejo-me impelido por profissionais da área a apostar em apenas num produto do modo mais intensivo e especializado possível, ocupando absolutamente toda a área disponível. Por outro lado gostaria de produzir intensivamente mas de uma forma que incluísse vários produtos que se complementam em termos de uso do solo, integrando melhor produção animal e vegetal por exemplo.
Não se trata apenas de pôr todos os ovos no mesmo cesto face ao risco de perder a produção toda por causa de uma semana chuvosa que coincida com a colheita por exemplo, mas de diversificar também o tipo de serviços e produtos que podem ser oferecidos. Com a variedade poderia diversificar também a clientela para além dos entrepostos e dirigindo-me ao mesmo tempo para o comércio local, algo que tenho vindo a ser absolutamente desaconselhado a fazer mas que sinto que posso experimentar gradualmente nesta fase inicial, especialmente estando dentro de uma área urbana, próxima de um mercado potencial.
A Sunny Creek (na foto) é uma produtora biológica australiana de frutos silvestres, castanha e maçã que produz na seca planície a norte de Melbourne com um sistema agro-florestal que integra os vários frutos, pensado para lidar com o clima e escassez de água, criando um oásis que é também economicamente próspero pela valorização que os seus clientes fazem deste modo de produção. Produzem com médias por hectare bem menores que os melhores casos de estudo tecnológicos destas culturas mas investiram também muito menos para obter o que têm - no fundo o saldo económico é semelhante mas o saldo ambiental e social é muito melhor. O que exigiu foi mais tempo e conhecimento, e uma relação mais elaborada e próxima com o cliente final.
Aqui não vejo muitas contradições, só inspiração.
O sistema multicomplementar do passado, em que o mato era levado para a cama dos animais e o estrume daí saído servia para fertilizar o campo e o milho daí retirado servia para alimentar as galinhas e por aí em diante, não haja dúvidas de que era o melhor... O problema é sempre o mesmo, o lucro, mas penso que enuncias o problema de forma lúcida e exemplar.
As historietas da falsa agricultura biológica e da protecção integrada e o diabo que os valha parecem-me uma estupidez semelhante aos esquemas de produção intensiva. Não passam de máscaras para criar falso valor acrescentado...
Uma coisa é certa, se queres sobreviver com um modo de produção sustentável, parece-me que o segredo passará sempre pela inovação do lado do que se escolhe cultivar e pelo nicho de mercado que se encontra para colocar a produção. Fazer contratos com hipermercados e colocar neles 4 toneladas de um determinado fruto por semana pode ser seguro, mas não passa de escravidão...
Que tal um pomar de feijoa, goji, paw-paw, etc.? Descobre produtos novos e arranja onde os colocar no comércio tradicional, produzindo sempre em pequena escala e de forma diversificada, mas atingindo o mercado no ponto certo.
O que pretendes é possível, força! :)
Ursdens
28.5.13No meio está a virtude; nem 8 nem 80; nem apertado demais,nem solto demais... acharás uma solução. Boa sorte!
Unknown
28.5.13Olá Ursdens, agradeço o interessante comentário.
Também tenho uma posição crítica relativamente à Agricultura Biológica, Integrada, etc, nomeadamente a algumas restrições, permissões e despesas a que obrigam de que penso falar noutro post.
Muitos produtos bio não são necessariamente muito mais caros a produzir, espantosa é a margem de quem comercializa normalmente (assunto para ainda outro post).
Mas também acredito que estas certificações permitem uma garantia dada ao consumidor quando este não pode conhecer o produtor ou quando estes produtos são utilizados em alimentos transformados, um aspecto que queria ultrapassar nas vendas para ao mercado local, encorajando visitas.
Isto porque ou avaliar pontos de escoamento facilmente se percebe que vender para retalhistas no mercado local é suicídio para quem não tem uma escala gigantesca (ou própria ou através de grandes OPs, como a do tomate).
As culturas alternativas como as mencionadas são interessantes (ainda acrescentava o Tamarilho, um Cumquat, a Romã, o Medronho, o Arguta, etc, etc) mas a sua especificidade exige um alcance maior (ou seja, outras cidades). O que não inviabiliza que nas meiras mais pequenas não instale um pomar para reforço de cabazes de hortícolas por exemplo.
No fundo, agradeço as futuras matérias para conteúdo do blogue :)
Nuno
29.5.13Muito obrigado Isabel Sofia Silva!
Nuno
29.5.13