Encontrar Terra
Tendo crescido num subúrbio no seio de uma família sem qualquer ligação ao mundo rural, o que é relativamente raro em Portugal, encontrar um lugar tornou-se incrivelmente difícil, apesar de por todo o lado ver solo agrícola subaproveitado ou mesmo não utilizado que parecia troçar da minha condição de desterrado, que está prestes a alterar-se.
Como algumas pessoas devem de certeza passar pelo mesmo, deixo algumas dicas, tendo em conta a salvaguarda de existirem imensas especificações para cada situação. No meu caso procurei no Minho, no mínimo um hectare contíguo numa região onde domina o minifúndio, e o objectivo era arrendar.
Alguns critérios para definir as zonas a escolher:
- Definir as necessidades gerais em termos de características de área e endafoclimáticas para as culturas escolhidas, em termos de altitude, pluviosidade, composição geral dos solos da região, entre outras
- Determinar que áreas são logisticamente mais viáveis e que estão próximas de pontos onde posso publicitar e vender os meus produtos e/ou onde existe um mercado local próximo que absorva os produtos e serviços (neste caso entrepostos e cooperativas agrícolas e uma cidade por perto)
- Encontrar locais onde já sejam produzidas culturas idênticas ao que pretendo produzir e onde existe apoio técnico e material ao tipo de actividade que quero desenvolver
- Encontrar que áreas têm aspectos interessantes do ponto de vista da valorização da produção, como produtos DOP ou IGP que interessem, se são áreas identificadas com dada produção de qualidade ou consideradas como Zonas Desfavorecidas (para âmbito de candidatura a apoios).
- Definir que valores se podem pagar pelo arrendamento (ou compra, se for o caso) e que atenuantes podem valorizar mais ou menos dado local, como despesas quotidianas de deslocação e habitação
- Definir que locais são interessantes para desenvolver a vida quotidiana local
Ser proactivo:
- Coloquei anúncios em papéis A5 com o que procurava e contacto em cooperativas, juntas de freguesia e cafés junto das áreas que me agradaram. Tive muitas chamadas interessantes mas por acaso não encontrei desta forma
- Circulando bastante e com os olhos abertos por toda a região de interesse, ao encontrar um local possível procurar o proprietário através dos vizinhos. "Melgar" sem descanso até obter uma resposta concreta, sendo totalmente transparente e assertivo com os objectivos
- Recorrer a pessoas que conheçam muitos proprietários numa região, como são os engenheiros da cooperativa ou que façam projectos de investimento na zona, as pessoas que normalmente fazem limpezas de terrenos (normalmente feitos por propietários ausentes de quintas) ou outros.
- Não rejeitar à partida possibilidades oferecidas por amigos de amigos ou familiares distantes que têm propriedades na família ou desafiá-los a utilizar esses espaços produtivamente.
- Apesar de serem raros, averiguar se o concelho da área de interesse tem uma iniciativa de Bolsa de Terras
- As imobiliárias NÃO são um bom meio de encontrar terrenos agrícolas a preços verosímeis, mas não custa ver um site agregador de ofertas para ver se existe algo
Problemas mais comuns são normalmente porque o proprietário:
- Não quer arrendar porque considera que "fica depois sem o terreno", porque "você depois nunca mais sai"
- Vai arrendando informalmente mas não quer assinar qualquer contrato
- Quer um valor irrealista para a renda ou não admite um prazo razoável (o mínimo legal são 7 anos)
- Não tem o imóvel em situação regular ou está a meio de um processo de partilhas
- Não se sabe sequer quem é o proprietário legal ou onde se encontra (muitas vezes emigrado)
As soluções possíveis são:
- Demonstrar que um contrato de arrendamento protege ambas as partes
- Que não faz sentido arrendar sem rentabilizar e o valor das rendas está tabelado (no meu caso a média pedida, para condições muito variadas, foi de 500€/ha/ano)
- Há que verificar dívidas, descrição e proprietário nas Finanças antes de qualquer compromisso
- Alegar que tirar algum rendimento e manter o terreno limpo e vedado já é um "lucro" do arrendamento
Boa caçada!
8.4.13
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Boas!
Acompanho o teu blog desde o início, dizendo-te, desde já, que é uma das minhas leituras obrigatórias na blogosfera!
Aprecio especialmente o teu espírito aventureiro, quiçá idealista..
Ainda assim, nunca entendi muito bem qual o projecto concrecto que pretendes desenvolver.
A bem do blog, que é para mim uma espécie de livro de quem conta a história de si, gostava que postasses mais sobre esse teu projecto, sobre ti, sobre todas as circunstâncias porque tens passado ao longo destes anos e as dificuldades que vais enfrentando, de uma forma mais concreta, se é que me faço entender.
Pareces-me um pouco uma espécie de Christofer McCandless, inspirado por um livro que nos inspira a todos e com uma sede profunda de "sugar todo o tutano da vida". E isso, para mim, é muito bom!
De resto, muita força e preserverança, são os meus votos!
Abraço!
Ursdens
9.4.13Olá Ursdens,
Muito obrigado pelo comentário gentil e agradeço a referência ao Christopher McCandless, de que não conheço muitos pormenores mas já tinha ouvido falar do filme porque amigos já me troçaram na brincadeira por fazer caminhadas de alguns dias sozinho.
Tenho algumas novidades sobre o que pretendo fazer para tentar materializar algumas ideias a que vou aludindo aqui. Nos próximos dias já devo poder colocar mais algumas coisas.
Obrigado pela visita e pela apresentação!
Nuno
Nuno
9.4.13Nuno, também sigo este blog há muito tempo, acho um atrevimento pedirem-te para falar mais de ti, este blog é sobre uma procura e um projeto, não sobre vida privada, está tão bom como está!
Unknown
14.4.13Unknown
14.4.13Bom dia!
Não quis, de forma alguma que o Nuno expusesse a sua vida privada... Entendeste-me mal Isabel.
Penso que um projecto é sempre indissociável de uma pessoa. Difícil será que alguém não projecte o que é no que faz ou procura.
Não conheço o Nuno, mas do que tenho lido no blog, comecei a admirá-lo!
Simultaneamente, penso que um blog é sempre diferente do ponto de vista do leitor e do autor. O primeiro quer sempre saber mais sobre o segundo, isso é natural. Mais sobre as convicções, as crenças, a maneira de ver o mundo. Não sobre aspectos íntimos que, esses sim, apenas dizem respeito ao autor em si.
Por exemplo, não faço a menor ideia do que o autor pretende cultivar; quais as posições que tem sobre a agricultura; se é um permacultor ou se o pretende ser, etc...
O que tentei pedir ao Nuno foi que nos oferecesse neste blog o seu próprio Walden..., nada mais.
Peço desculpa se gerei alguma má interpretação.
Cumprimentos!
Ursdens
15.4.13Compreendo perfeitamente, curiosidade pelo projecto é sempre saudável. Abordo também outras pessoas com outros projectos com a mesma intenção.
Aliás um dos meus objectivos é que se alguém vir uma boa ideia aqui e estiver longe desta região, que a copie, e se estiver perto, que se junte a mim!
Nuno
15.4.13