TV Rural [VII] : Dois anúncios completamente diferentes

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Stone Barns Center for Food & Agriculture from Local Projects on Vimeo.




Estou mais virado para o primeiro, que apesar de me parecer ser sobretudo um projecto educativo, está próximo do que seria uma quinta ideal.
O segundo está aqui pelo gozo, especialmente o tractor a sacar e o mocho dançante. Estes últimos também têm um anúncio gangsta, um pouco constrangedor.

Elogio da Flora [I] :a Batata

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As batatas são uma boa fonte de hidratos de carbono e de proteína, que conseguem proporcionar em grandes quantidades (comparáveis ás leguminosas e aos cereais), numa densidade maior do que qualquer outra cultura própria de climas temperados, tendo também excelentes níveis de vitamina C e quantidades significativas de Cálcio e outros minerais.

Dentro das culturas essenciais são as mais fáceis de cultivar, não requerendo solos muito leves, grandes operações de mobilização ou equipamento, ou mesmo sequer um solo "colonizado" há muito tempo, conseguindo competir com ervas daninhas ou prosperar em solos ácidos (mais comuns em Portugal).

Crescem em locais demasiado frios ou húmidos para cereais e são mais resistentes a mudanças bruscas de clima, gostando bastante de altitude (de onde são originárias e onde são propagadas).
Enquanto que muitas leguminosas e cereais requerem algum processamento antes do consumo qualquer pessoa que saiba acender um fogo e tenha um tacho com água está habilitada a preparar batatas, que têm de resto uma enorme versatilidade culinária.

Sakura Forecast

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A imagem ao lado é de um tipo especial de anúncio que se vê a seguir às previsões meteorológicas a partir desta altura, no Japão. Trata-se de um mapa de floração das cerejeiras com o momento estimado de abertura dos botões para cada região.
Este é um dos costumes mais antigos do Japão (o diospireiro também tem um culto associado em menor grau) chamado "Sakura", e mobiliza anualmente milhões de contempladores.
Esta devoção faz-me lamentar a nossa eliminação ou transformação irreconhecível dos cultos pagãos associados às estações, que sobrevivem em algumas festas populares dedicadas a colheitas, apesar de em breve termos também as nossas festas das amendoeiras e cerejeiras, que bem merecem o agendamento de uma visita.

Truísmos [VIII]

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"In Portuguese mountain areas traditional and sustainable forms of agriculture are on the edge of economic viability, mainly due to agricultural and trade policies which apply economic theories from the industrial sector to agriculture. 
As a result, small-scale and family-farmers are forced out of business and they become dependent on the global food-system and markets, when they have no alternative income sources in the rural areas where they live. 

At the same time, environmental degradation, unemployment and health epidemics related to urban lifestyles spread and more and more people wish to escape unsatisfying jobs and to reconnect to the land. 
An economic system that prevents people form satisfying their livelihood needs directly from the land ultimately creates artificial hindrances to human well-being. 
It is essential that sustainable land-based livelihoods are properly valued and become viable again. 

For this to happen both policy change and grassroots action are needed. Policies need to consistently support the aim of proximity-based sustainable agri-food systems, i.e. regional food sovereignty, and interested individuals need opportunities to learn how to make a living from sustainable agriculture and other land-based activities."

in Viragem

Léxico [III] : Prosperidade sem Crescimento

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Este é o título de um livro escrito pelo economista Tim Jackson, com o clarificador sub-título de "Economia para um Planeta Finito" (crítica do Guardian aqui). A ideia de que o desenvolvimento económico é uma ferramenta que serve a qualidade de vida das sociedades humanas e não uma espécie de organismo autónomo com valor em si mesmo (vulgo "os mercados", o novo "homem do saco") seria considerada uma blasfémia, não fosse o oportuno timing de publicação após a crise de 2008, quando esta ideia de desenvolvimento começou a trair as suas bases de forma mais evidente.

Ficam evidentes  três limites para este tipo de sistema: o limite a partir do qual a sociedade tem possibilidades de trabalhar enquanto perde qualidade de vida; o limite de diminuição de salários e emprego, extinguindo-se o consumo que suporta o crescimento; e por fim os limites físicos dos recursos finitos em que se baseia a produção e consumo de bens, do crude à produção agrícola.


Como actualmente o novo mantra económico da "austeridade" domina a paisagem política, como o desemprego e redução do poder de compra são evidentes e como os bens energéticos e alimentares sobem consistentemente é oportuno pensar para além do PIB e começar a reflectir sobre os meios de assegurar a prosperidade e qualidade de vida sem recurso ao "crescimento pelo crescimento".
Este livro deixa manifesta a necessidade de rejeitar praticamente toda a política económica vigente, abrindo perspectivas para algo fundamentalmente diferente ( provisoriamente chamado "steady-state economy").
Falta saber a que sociedade corresponde esta política económica baseada na qualidade de vida e se gerações inteiras cuja valorização advém do poder de compra estarão dispostas e integrá-la com naturalidade.

St. Matthew Island

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Esta história em banda desenhada de Stuart McMillen é das melhores parábolas sobre sustentabilidade que já li, ultrapassando em eloquência muitos tratados de economia sobre o tema. Leitura obrigatória.

Apontadores [VI] : Paisagens

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Rewilding Europe
Este é um projecto europeu com sede na Holanda que tem como objectivo promover a implementação de áreas de vida selvagem sob o conceito de "wilderness", o que pode implicar uma gestão gradual do abandono agrícola no sentido de recuperação da paisagem "selvagem".
Isto significa necessariamente que valores paisagísticos e de biodiversidade associados à actividade agrícola e florestal são substituídos por outros em lugar de existir uma degradação em que nenhum destes sistemas exista, que é a parte polémica do projecto.
Uma das 5 áreas-piloto é a zona transfronteiriça que engloba também o Parque Natural do Douro Internacional.

Associação criou no Vale do Côa a primeira área protegida privada do paísEsta notícia já vem com atraso mas a ATN (ver barra lateral) é mesmo a pioneira numa forma de actuação que parte de cidadãos para a protecção do território, bastante comum por outros locais. Também bastantes actividades interessantes, de passeios a interacção com fauna agrícola e selvagem até contribuições directas dos associados para a actividade da associação.  LPN também gere uma zona protegida em Castro Verde.


Floresta do Minho
Mais uma nova ONG do ambiente dedicada à floresta (temos também o Plantar Portugal e o Criar Bosques, ambos bastante recentes).  Pretende constituir um viveiro próprio e intervir mais com base de voluntariado e cooperação com autarquias. Seria interessante se cada câmara tivesse uma iniciativa anual de voluntariado coordenada por estas ONGs para limpeza, controle de combustível e invasivas e plantação durante o ano, acompanhada de campanhas de sensibilização.


Conservação de Habitats Prioritários nas Montanhas do Norte de Portugal
Este é mais um projecto LIFE desta vez da Quercus, que vai intervir em áreas de Rede Natura do Norte de Portugal, nomeadamente Serra de Arga (região biogeográfica Atlântica), Serra de Montemuro e Alvão-Marão (região biogeográfica Mediterrânica). Por enquanto está na fase de levantamento.


Propriedade agrícola reconhecida pela diversidade de aves
A SPEA reconheceu a Quinta de Zom, em Freixo de Espada à Cinta, pela sua extraordinária diversidade de aves. Esta propriedade de 90ha, localizada em pleno Parque Natural do Douro Internacional, possui mais de 60 espécies de aves, que dependem dos habitats naturais da quinta e de uma gestão agrícola favorável.

Paredes de Coura planta 5000 árvores e Ponte de Lima compensa produtores em área protegida
Duas das minhas Paisagens Protegidas favoritas (e quase vizinhas) são alvo de duas iniciativas diferentes por parte das respectivas Câmara Municipais: Corno de Bico reforça a sua floresta autóctone e as Lagoas de Bertiandos vão passar a beneficiar os produtores da zona que apostem em produção que apoie a bio-diversidade.

Os pássaros gostam de Arquitectura?

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 O hábito milenar dos humanos de ter o seu próprio coro alado continua até hoje, com toneladas de cereais destinados a aves que não põem ovos ou não produzem carne para comer, mantidas num espaço equivalente a uma televisão e por vezes capturadas ilegalmente noutros países.
Diminuindo o hábito de conservar criaturas migradoras ou que normalmente dispõem de territórios num singelo recipiente de plástico e aço, muitos se satisfazem ou conformam com as espécies locais que vivem em liberdade, encorajando a sua presença para que sejam ouvidas e vistas, usando as familiares "casas de pássaros" (não como a partida maquiavélica da imagem ao lado).
Mas a maioria das aves que frequentam zonas urbanas em Portugal não precisa de uma "casa" mas de menor pressão ambiental, refúgio e alimento. Para garantir um coro privado basta ter por perto uma boa massa de arbustos e árvores, a ausência de gatos (maior repelente de aves) e algum alimento e água (facultativo). E já está, sem aventuras na nano-construção.

Os cantos de alguns "solistas" mais comuns em Portugal, observáveis quase todo o ano num passeio silencioso e sem pressa, mesmo num parque ou jardim urbano:

Pisco de Peito Ruivo
Melro-Preto
Rola-Turca
Tentilhão-Comum (com uma rola a passar)
Milheirinha
Verdilhão
Pintassilgo

Uma notícia relacionada com o tema: a Câmara Municipal do Seixal, perante a ameaça da processionária-do-pinheiro a estas árvores criou um programa de reforço de habitats para o chapim-real (essa sim um espécie que habita "casas" introduzidas por humanos), distribuindo casotas pela população, com consultoria especializada. Este predador natural das lagartas por sua vez também reforça a cadeia alimentar das aves de rapina da região. O chapim também tem um canto agradável, e imita por vezes o canto de outros pássaros.

TV Rural [VI] : Ensuring the future of food

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Ainda a propósito deste tema o Ministério da Agricultura japonês fez uma campanha pela soberania alimentar do país, baseada no pressuposto de pedir ao seus cidadãos que optem mais por uma dieta tradicional com produtos nacionais, dada a extrema dependência do Japão em várias vertentes.
Tanto a mensagem como o design estão muito bem conseguidos (faz lembrar o vídeo do Remind Me).

Hortas Comunitárias em Portugal [V] : Hortas do Museu do Traje

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Génese:
Lisboa, Museu Nacional do Traje, aproveitando pequenos lotes integrados no Parque Botânico Monteiro-Mor

Área / Nº de participantes:
Total de 3000m2, talhões com áreas variáveis, actualmente com 26 ocupantes (100%).

Objectivos:

Rentabilização de espaços desactivados do jardim botânico, ocupação de tempos livres

Sítio da Internet:

Sítio Oficial, Notícia JN

Notas: 

Partindo da iniciativa do Museu do Traje, dividiu-se parte da área do jardim para cultivo de talhões por privados através de um pagamento de renda mensal (água de rega incluída), a que acrescem serviços pagos de jardinagem, a pedido (escavação, rega, etc). Esta tipologia de pequeno espaço arrendado é mais comum mesmo nos modelos institucionalizados de outros países (alguns com rendas bastante altas).

Beans are Bullets, Potatoes are Powder

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O slogan do título foi usado numa das agressivas campanhas em prol da auto-produção por parte dos países anglófonos durante a 2º Guerra Mundial, que se estendeu por outros meios, como os cartazes que agora aparecem cada vez mais sempre que se fala de locavorismo ou de alimentação sustentável (e que tiveram aqui uma actualização).
Este é um dos melhores e mais convincentes exemplos de design de intervenção, sem grandes devaneios pictóricos e bastante denso em informação (adoro o "Please Post Conspicuously") e as variedades escolhidas obedecem criteriosamente ao máximo de valor alimentício na menor quantidade de espaço de cultivo.

Um embargo a importações alimentares causado por uma guerra é uma situação agora bastante invulgar por estas bandas e algo que associamos a tempos mais bárbaros em que era verosímil um conflito em grande escala à nossa porta, mas foi o único verdadeiro desafio que alguma vez se colocou ao modelo de agricultura industrial da "revolução verde".
No fundo foi um duplo desafio: as economias de escala que apoiam este tipo de agricultura revelaram-se dependentes de um mercado global, baseado na livre troca e transporte de bens, e a intrínseca complexidade laboral e enorme dimensão estrutural deste modelo mostraram-se incapazes de se adaptar a uma realidade de escassez de recursos (desviados para a máquina de guerra) e de descentralização da produção.

Basicamente, como em vários aspectos de outras indústrias, foi preciso fazer muito com pouco e em pouco tempo ideias totalmente estranhas à época (e que ainda hoje fazem franzir muitos sobrolhos), foram recuperadas ou inventadas de raiz.
Nasceu assim a primeira campanha de partilha de boleias, a primeira campanha de recuperar vestuário, a primeira campanha de material de escritório (!) e, obviamente, a primeira campanha de produção própria de alimentos nos quintais e jardins (acompanhados da conservação).

O título dramatiza o que era o verdadeiro "segundo teatro de guerra" do conflito, travado nas cozinhas e quintais, exprimindo a constante pressão logística para abastecimento da população e exército.
Quando falhou o modelo vigente de produção agrícola, cujas vulnerabilidades mencionadas acima aumentaram exponencialmente nestes 60 anos que passaram, os feijões foram balas e as batatas, pólvora.

Apontadores [V]: Portugal, dependência agrícola e soberania

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Sector Agrícola Português perdeu meio milhão de hectares em 10 anos

"A agricultura portuguesa conheceu, nos últimos dez anos, um claro processo de ajustamento estrutural, com a área média das explorações a aumentar 2,5 hectares, o que potencialmente as torna mais competitivas. Mas, no mesmo período de tempo, o território dedicado à prática agrícola recuou em quase meio milhão de hectares, o que não deixa de ser preocupante, dada a forte dependência externa de Portugal em produtos alimentares."

Verdes alertam para "grave dependência" nacional a nível alimentar

"A deputada ecologista alertou hoje para a “grave dependência” nacional a nível alimentar, que implica um custo anual de quatro mil milhões de euros, defendendo a obrigatoriedade de as grandes superfícies comerciais venderem produtos nacionais. Mas o Parlamento, com os votos contra do PS, chumbou a proposta."

Sector dos cereais com quebra de 40% no valor da produção em Portugal


"A campanha cerealífera de 2009 é para esquecer. O volume de produção caiu cerca de 23 por cento face ao ano anterior, mas o valor final do produto colhido apresenta um recuo ainda mais significativo - a rondar os 40 por cento - fruto de uma quebra de 21,4 por cento no preço."

"Reserva Alimentar deve ser prioridade política"


"Portugal deve dar prioridade política à constituição de uma reserva alimentar, defendeu hoje o presidente da AICEP, Basílio Horta, alertando para o aumento dos preços a nível internacional e para a elevada dependência face ao exterior."

Portugal cada vez mais dependente do exterior para comer


"Andámos anos a fio a desincentivar o investimento na agricultura em geral e nos cereais em particular, porque dominava a ideia de que podíamos comprar tudo ao exterior. É verdade, assim como também o é o desequilíbrio na balança comercial dos produtos agrícolas, que ronda os €3000 milhões anuais", sublinha António Serrano, ministro da Agricultura."

Portugal é muito vulnerável à oscilação de preços dos alimentos


"A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) revelou na quarta-feira que o índice de preços dos alimentos aumentou, pela sexta vez consecutiva, em Dezembro. “Se somos muito dependentes, somos muito vulneráveis a qualquer aumento de preços que haja ao nível do mercado internacional”.

Portugal vai ter de pagar mais para garantir alimentação 

"Temos de importar mais de 60 por cento da carne que consumimos, deixámos de ter produção de açúcar e só há pouco tempo começámos a plantar olival. E temos de importar praticamente tudo o que consumimos em matéria de cereais, até mesmo para alimentar o gado nacional. Nos últimos dez anos, o défice da nossa balança comercial alimentar disparou 23,7 por cento."

O que mais exportamos? 

"Tomate, batata, cenoura e couves são os produtos hortícolas mais exportados por Portugal, mas o país continua a ser "altamente deficitário no sector horto-frutícola". O caminho para combater o desequilíbrio entre exportação e importação é o Estado português "aumentar a produção em áreas agrícolas abandonadas" e "criar produtos com valor acrescentado".

Album [V]

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Apontamentos [II]

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Ando a ler o novo Recenseamento Agrícola e mais não digo para não entrar em assuntos deprimentes, para não dizer catastróficos. Algumas curiosidades mais neutras, tiradas daqui:

-Em Castro Verde as explorações agrícolas têm em média 156 hectares mas na Pampilhosa da Serra não vão além de 1 hectare;

-Na Maia praticamente toda a SAU é irrigável (97%) enquanto que em Barrancos quase não existe regadio
(0,1%);

-Em Caminha ¾ dos produtores agrícolas são mulheres e em Porto Santo estas não ultrapassam os 4%;

-Em São Brás de Alportel os produtores têm em média 70 anos e em Santa Cruz das Flores são 20 anos mais novos (Açores tem os agricultores mais novos do país);

-Montemor-o-Novo apresenta a maior percentagem de produtores com habilitações ao nível do ensino
superior;

-Odemira tem a maior percentagem de explorações agrícolas que se dedicam a actividades ligadas ao turismo no espaço rural;

-Moura tem o maior número de explorações com aproveitamento de energias renováveis;

-Em Vila do Conde existem mais de 2 tractores por exploração enquanto que na Madeira existe apenas um
tractor em cada 60 explorações;

-Em Chaves uma em cada 5 explorações tem efectivo asinino;

-Ponta Delgada e Barcelos têm o maior efectivo de vacas leiteiras.

- A agricultura biológica é 3% da áreas agrícolas (abaixo do nível de consumo que é de 5%), para uma média europeia de 4%. Isto está a milhas dos 20% da Itália e Espanha,e se somarmos os produtores tradicionais/DOP aos italianos são mais de 50% (!)

Are you local?

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Modelos como as CSAs estão em crescimento em alguns países, com a emergência de correntes díspares: procura de variedades e produtos menos comuns; preocupação com gastos energéticos com transportes; inclusão económica de pequenos produtores, etc.
Colectivamente estas considerações têm vindo a assumir a designação de "locavorismo", embora as prioridades ainda sejam pouco consensuais.

Sendo de certa forma relativa a questão da energia (maior parte da energia gasta nos alimentos é gasta em casa, assim como a maioria dos desperdícios) e bastante circunscrita a questão gastronómica (mais próximo nem sempre quer dizer melhor) acho bastante pertinente a vertente socio-económica e também ambiental, uma vez que transporte e refrigeração ainda têm algum peso nas emissões mas sobretudo se se tiverem em conta produtos e modos de produção de baixo impacto e/ou de suporte à paisagem e biodiversidade.

Nada impossibilita que os hipers apoiem este tipo de produção, inclusivamente comprando a CSAs locais (como a Whole Foods) mas o problema passa a ser um de escala, o que suscitou duas reacções bastante interessantes em dois casos nos EUA e em Portugal que permitem ultrapassar esta questão:

A mega-cadeia de retalho Wal-Mart anunciou que vai reduzir a sua cadeia de abastecimento, passando a fornecer-se da produção agrícola local:
http://www.nytimes.com/2010/10/15/business/15walmart.html

A Jerónimo Martins vai criar uma marca de comércio de rua, que nada impede que tenha também uma cadeia de abastecimento mais reduzida e que apoie oferta dos centros urbanos:
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=465617

Estes dois exemplos não excluem a possibilidade de coordenação com um modelo cooperativo organizado (não sendo necessariamente uma CSA), com vantagens para produtores e consumidores, para além da comercialização directa- em São Miguel uma cooperativa de produtores de carne tem o seu próprio talho e restaurante (bastante famosos) e em Barcelona cooperativas de produtores de hortícolas têm "marcas" e bancas próprias.
Muitos mercados têm mercearias e outras lojas, que lhes dão uma abrangência de necessidades capazes de competir com hipers, se se somar também a sua localização tendencialmente central nas cidades, vantagem que se transformou hoje em desvantagem, situação que ainda pode ser revertida.
Basicamente, existem aqui pontes para conciliar os interesses de todos, se houver uma convergência de alterações:

- Se os consumidores valorizarem mais a produção nacional e local, reconhecerem valor nalguns produtos tradicionais e alimentação "na época", e frequentarem mais os mercados ou comércio de rua- tendência tímida mas crescente

- Se os hipermercados verem vantagens comerciais (logística, ambiente, "premium" social) em reduzirem a sua cadeia de abastecimento e/ou tipologias de loja, como evidenciado por estes exemplos

- Se produtores agrícolas forem capazes de apostar em formas de organização da sua produção que lhes permita concorrer ao nível do comércio local, seja em grandes superfícies e/ou com marcas próprias em mercados e lojas cooperativas e contribuir para o aumento do seu poder negocial e remuneração.

São indícios positivos de outras formas de comprar de forma social e ambientalmente responsável, mais equilibradas do a actual situação que se polariza entre a situação difícil de obter conhecimento de vários produtores deslocalizados e longe dos grandes centros de consumo e a massificação deslocalizada de produtos e abastecedores que exclui ou é apenas limiarmente compensatória para muitos produtores.

Truísmos [VII]

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"Porque não preservamos somente aquelas espécies de que precisamos, deixando as outras extinguirem-se, já que é esse o seu destino final, como o foi para milhões de outras?
 

(...)

Para considerar este assunto basta colocarmo-nos três questões: 

Que dez espécies de árvores produzem a maioria da polpa de papel do mundo? 
Para cada uma dessas dez espécies, quais são as dez espécies de aves que se alimentam da maioria das suas pragas de insectos, as dez espécies de insectos que polinizam a maioria das suas flores e as dez espécies de animais que mais espalham a maioria das suas sementes? 
De que outras dez espécies dependem respectivamente cada um dos animais, insectos e aves que foram mencionados anteriormente?

Teríamos de ser capazes de responder a cada uma dessas questões impossíveis se fossemos o presidente de uma companhia madeireira que procurasse decidir que espécies se poderia dar ao luxo de permitir que se extinguissem."


O valor da biodiversidade por Jared Diamond em "The Third Chimpanze"